China: A potência promissora para o mercado de café
A China é conhecida por seu gosto pelo chá.
Mais de 2.700 anos a.c. o imperador Shennong descobriu o sabor do chá quando uma folha de camélia caiu acidentalmente em seu copo de água morna.
Utilizado primeiramente com funções médicas passou a ser a bebida mais consumida na China até hoje!
História do café na China
Já o café teve seus primeiros indícios de consumo na China por volta de 1860, mas não pelos chineses. Diversos países ocidentais (Itália, Holanda, Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, Rússia, Áustria, Alemanha e Bélgica), juntamente com o Japão Imperial, receberam grandes extensões de terra e recriaram réplicas de suas cidades como resultado das Guerras do Ópio – que forçaram a China a aceitar a entrada de Ópio no país e se submeter a uma subjugação econômica.
Com isso, surgiu uma curiosa cultura cafeeira na China neste período trazida pelos imigrantes. Em Xangai, por exemplo, na área de colonização internacional, existiram teatros, parques e, claro, cafés, onde, infelizmente, era comum se ler placas com dizeres como “Entrada de cães e chineses proibida”.
Outro registro de consumo de café aconteceu a partir da década de 1930, em uma China dominada pelo Japão. Repartida em setores em estrutura colonial, Xangai abrigava pessoas de diversos países como última alternativa para os que fugiam do nazismo.
Com a radicalização e expansão do antissemitismo nazista, em 1937, os imigrantes judeus chegam cada vez em maior número a Xangai.
Com o avanço da guerra, os japoneses isolaram os judeus em guetos onde chineses pobres já haviam sido confinados. O Setor Restrito para os Refugiados Apátridas (Restricted Sector for Stateless Refugees) conhecido como Gueto de Xangai abrigou cerca de 23 mil refugiados judeus, até sua libertação em 3 de setembro de 1945. Com, aproximadamente, um quilômetro quadrado, era uma das áreas mais pobres e movimentadas da cidade.
Uma das poucas áreas em que os europeus e os chineses comuns se misturavam, tornou-se notável por ter algumas das casas de café nas quais conviviam.
Para quem quer conhecer mais sobre este episódio de nossa história, vale assistir “Exílio Xangai”, documentário de 255 minutos da diretora alemã Ulrike Ottinger.
Produção local
Já a produção cafeeira na China (sim, a China produz café!) se iniciou por volta de 1890 quando um missionário francês plantou grãos na província de Yunnan, no sudoeste do país que faz fronteira com o Vietnã, Laos e Mianmar, localizada no coração do cinturão de café.
Tradicionalmente conhecida pela produção de chá, o famoso chá preto ‘Pu’er’, a região também se mostrou adequada à produção de café.
Ao contrário do vizinho Vietnã, que produz Robusta, a maior parte da produção da China é Arábica, principalmente da variedade Catimor, que muitas vezes é plantada junto ao chá.
É interessante que o Robusta seja utilizado para o café instantâneo que, vejam só, é amplamente consumido na China: 95% do Robusta utilizado no país é importado do Vietnã. O restante da produção de Robusta vêm de Fuijan, província que originou as xícaras de porcelana de café no século XVII, e de Hanain, uma ilha semi-tropical localizada no Mar da China Meridional, que se estende para a Baía de Tonkin, que possui um comércio de café indígena e onde, na parte sudeste da ilha, as pessoas bebem o café da manhã com leite de coco (daí a origem do Bulletproof Coffee).
Yunnan representa mais de 95% da produção de café da China e a região de Pu’er produz cerca de metade da produção total de café da província, com 39 mil toneladas de café das 82 mil toneladas produzidas durante a safra 2012-2013.
Grandes empresas na China
O crescimento da produção de café na China aconteceu cerca de cem anos depois do primeiro plantio: em 1988 o governo chinês, em associação com o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, iniciou um projeto de regeneração do setor. Grandes empresas como a suiça Nestlé entraram no negócio, que hoje parece muito mais que promissor.
Para se ter uma ideia, fazem dois anos a Nestlé, que domina 72% do mercado do café instantâneo no país – 99% de todo o consumo de café na China é de café instantâneo segundo o Euromonitor -, criou em Puer, Yunnan, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Café da Nestlé em parceria com o Colégio de culturas tropicais na Universidade Agrícola de Yunnan.
Entrando no mercado de uma outra forma, chegou a Starbucks que hoje abre, em média, uma loja por dia na China!
Isso mesmo!! Assustador, não?!
Só Xangai já conta com mais de 100 lojas. Para atrair clientes chineses, a Starbucks agregou ao café a ideia de requinte, por isso, o valor de um café em uma loja na China sai muito mais caro que em Londres, por exemplo. O cafezinho mais barato em uma loja de lá custa cinco dólares!
Torrefação e café de qualidade
O processo de torrefação é um passo vital na obtenção de café de alta qualidade, passo que ficou praticamente esquecido na China até recentemente. O primeiro torrefador de café premium se estabeleceu em 1994, o Arabica Roasters, que atua até hoje e, desde então, inúmeras empresas nacionais e estrangeiras vêm surgindo no mercado.
Uma delas é o Sumerian Coffee, que atua na cena de cafeterias independentes e concentra-se na oferta de cafés de qualidade, sem as misturas com leites (amplamente ofertadas pelas grandes marcas). Ela faz parte da lista da Corditravel das cinco cafeterias em Xangai nas quais se bebe um café de qualidade.
Café e vida social
Cada vez mais o estilo de vida ocidental vendido pelas grandes indústrias entra e começa a fazer parte da China e da vida dos chineses. Encontros de trabalho ou de lazer em cafeterias passaram a simbolizar status e as grandes marcas vêm investindo em agregar ao café o glamour que o chá não oferece.
A estimativa é que o mercado chinês seja o de maior crescimento potencial no mundo: 17% ao ano.
E tem dado certo. A estimativa é que o mercado chinês seja o de maior crescimento potencial no mundo: 17% ao ano. É fácil de se imaginar porque: mesmo que o consumo de café per capta ainda seja baixo, a china tem entre 500 e 600 milhões de potenciais consumidores. Considerando isso, até brasileiros já abriram sua cafeteria no país, como Leonardo Scarpelli, com o “Carioca Coffee”.
Referências: China Briefing, China Daily, International Coffee Organization, BBC, Nestle medium, Marketing to China, A People’s History of Coffee and Cafés e The Guardian