Sem concorrência, juro estratosférico afeta economia do Brasil, diz 'WSJ'
As "estratosféricas" taxas de juros cobradas pelos bancos no Brasil são uma das razões para o fraco desempenho da economia do país, afirma reportagem publicada no jornal americano "The Wall Street Journal".
A reportagem cita que a média dos juros cobrados dos clientes está em 53% ao ano -o nível mais alto entre 55 países desenvolvidos e em desenvolvimento. O jornal diz que a economia sofre muito porque ela depende de consumo, e os clientes sem crédito não conseguem gastar.
Isso torna o ambiente inseguro para empreendedores, e o tema tem sido um dos principais entre os candidatos a presidente, na eleição de outubro.
O texto também destaca que a Selic (taxa básica de juros) está no nível mais baixo de toda a história (6,5% ao ano), mas os juros do cartão de crédito estavam em 270% em julho.
O "WSJ" destaca que, num país de 210 milhões de habitantes, apenas cinco bancos controlam 82% de todos os empréstimos feitos. Economistas ouvidos pelo jornal disseram que isso permite aos bancos manterem juros altos, prestarem um serviço ruim e não serem transparentes em relação aos empréstimos.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), ouvida pelo "WSJ", disse que há competição suficiente e jogou a culpa dos juros nos impostos e na regulamentação do setor, afirmando que há "altos custos na atividade financeira".
A reportagem menciona relatório do Banco Mundial para mostrar que o brasileiro paga, em média, um spread de 38,4 pontos percentuais. Isso significa que é oito vezes maior que o do México (4,6 pontos) e quatro vezes maior que na Argentina (9,7 pontos percentuais).
O spread é a diferença entre os juros que o banco cobra quando você toma dinheiro emprestado e o que ele paga quando você investe nele.
Economistas ouvidos pelo "WSJ" dizem que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), previsto para 1,5% neste ano, poderia ser maior se as pessoas se sentissem confiantes em comprar a prazo, com taxas mais baratas.
"Juros mais baixos certamente estimulariam o crescimento econômico no longo prazo", disse ao jornal o economista Marcio Holland, da Fundação Getulio Vargas (FGV).