Chuvas dos últimos dias afetam trabalhos de colheita de café
As chuvas que caíram em áreas produtoras de café de Minas Gerais e São Paulo nos últimos dias, previstas pelos principais institutos meteorológicos e reportadas pelo Notícias Agrícolas na semana passada, já afetam os trabalhos de colheita da safra 2017/18 e também a secagem dos grãos que estavam no terreiro de alguns produtores, o que coloca em xeque a qualidade da produção. As precipitações chegaram a registrar acumulados de quase 100 milímetros no fim de semana em algumas áreas.
Segundo o cafeicultor Marcelo Tristão, que tem uma fazenda de café de 60 hectares no Sul de Minas, em Córrego do Bom Jesus (MG), as chuvas começaram no fim da semana passada e afetam não só o grão já colhido, mas também o café que ainda está no pé. "Colhi apenas 10% da produção, que está no terreiro, e foi afetada pelas chuvas. A situação está complicada. Cobrimos o café com chuva e tiramos a lona nos momentos de sol", afirma. Tristão estima produção de 3 mil sacas em sua lavoura nesta safra.
De acordo com dados do Sismet (Sistema de Monitoramento Meteorológico Cooxupé) mostram que só na sexta-feira (19) a cidade de Guaxupé (MG) registrou 71,8 milímetros de chuva. No sábado foram mais 1 mm e no domingo 10,4 mm. Totalizando 82,8 mm. Em Coromandel (MG), o acumulado dos três últimos dias totalizaram 61,2 mm e em Carmo do Rio Claro (MG) foram de 59,6 mm.
O produtor de São Pedro da União (MG), Nivaldo Donizetti Araújo, aguarda as chuvas pararem para começar a colheita. Ainda assim, já registra perdas em sua propriedade que tem pouco mais 15 hectares. "Já são cinco dias de chuva em todo o Sul de Minas. Caiu muito café no chão e temos a preocupação com a qualidade. Em áreas que são de ladeira não conseguimos recuperar o grão, a perda é total", afirma.
A produção de café em boa parte do Sul de Minas Gerais será de bienalidade negativa nesta safra 2017/18 e com as perdas recentes fica uma preocupação a mais com o abastecimento. "Ano passado colhi cerca de 500 sacas de 60 kg, mas neste ano previa cerca de 300 sacas. Com essas perdas, pode ser que consiga colher apenas 180 sacas", pondera Araújo.
Com maior umidade por conta das chuvas, o café fica mais suscetível ao aparecimento de doenças. A qualidade dos grãos comprometida acarreta em menor valor para o produtor no momento da comercialização, pois afeta a qualidade da bebida. "O fruto em contato com a terra sofre fermentação, deixa de ser de árvore e passa a ser varrição. Além disso, as precipitações também atrapalham a secagem no terreiro e favorecem a proliferação de fungos", diz o engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, em Franca (SP), Marcelo Jordão Filho.
A orientação para o produtor, quando o fruto já está no terreiro e ainda com umidade está abaixo de 30%, é que ele seja coberto. Também existe no mercado produtos à base de cloro que ajudam a diminuir a umidade, explica Filho.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Café e EPAMIG na área de Agrometeorologia e Climatologia, Williams Ferreira, a expectativa é de chuvas abaixo da média para o mês de junho, quando a colheita deve estar em pleno vapor no país, e isso pode favorecer a secagem dos cafés, principalmente nos terreiros.
"Apesar da previsão de clima favorável ao processo de secagem, os cafeicultores devem ficar atentos com o ponto de maturação dos frutos na colheita e com a movimentação do café nos terreiros, principalmente nos primeiros dias, de modo a evitar fermentações indesejáveis, fatores esses fundamentais para a obtenção de cafés de qualidade", explicou.
Ele alerta ainda que os produtores devem ficar atentos com a alta infestação da ferrugem do café que já vem sendo identificada em algumas regiões de Minas Gerais.