Concurso de qualidade do café produzido por indígenas é lançado em Cacoal
O fato do indígena Valdir Aruá ter ficado com a segunda colocação no Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café (Concafé), na edição do ano passado, chamou a atenção de uma grande indústria nacional de café.
O destaque foi tão grande que a empresa decidiu promover um concurso de qualidade do café com a participação exclusiva dos povos indígenas. O lançamento da 1º edição do concurso "Tribos" ocorreu nesta quinta-feira (11), em Cacoal (RO), município a 480 quilômetros de Porto Velho, e contou com a participação de indígenas e autoridades.
Valdir é morador de Alta Floresta D’ Oeste (RO). Durante o concurso de 2018, ele atingiu 81,69 pontos na nota final. O café produzido na Aldeia São Luiz apresentava acidez cítrica, aroma de ervas, especiarias e era amadeirado.
Com o segundo lugar, Valdir recebeu R$ 8 mil e se tornou o primeiro indígena de Rondônia a ser premiado pela qualidade da produção do café.
Agora, com a visibilidade na produção do café indígena, Valdir se diz surpreso, mas garante que vai trabalhar ainda mais para aumentar a qualidade do grão cultivado com o apoio da agricultura familiar.
"Há mais de um ano, passamos a trabalhar com o plantio de clones e não mais com o cultivo de sementes. Isso já nos fez perceber um aumento na produtividade e qualidade da planta. Nossa expectativa para esse ano é produzir 20 sacas de café de qualidade, nos dois mil pés que já estão produzindo", disse Aruá.
Concurso
O concurso Tribos vai premiar os três primeiros colocados na qualidade do café produzido pelos indígenas. O primeiro colocado terá a produção comprada por R$ 3 mil cada saca e receberá uma premiação de R$ 25 mil.
O segundo colocado poderá vender todas as sacas de café produzidas por R$ 2 mil cada, além de ganhar R$ 15 mil. Já o terceiro colocado terá o café comprado por R$ 1 mil cada saca e receberá R$ 10 mil.
Além do concurso, os indígenas estão sendo incentivados pela indústria com doações de mudas clonais, treinamentos com focos em cafés de qualidade e investimentos na infraestrutura necessária nas aldeias Sete de Setembro, em Cacoal, e Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D'Oeste.
"Nossa intenção com esse concurso é juntar a Amazônia, a cultura indígena e o café. Queremos incentivar o índio a produzir café de qualidade, com sustentabilidade. Vejo os indígenas acordando para melhorar a plataforma de negócio dentro das terras deles: antes eles caçavam e pescavam. Agora a realidade mudou. Eles precisaram se reformular para atender as necessidades, como comprar roupas, manter tecnologias, educação para os filhos", disse o presidente da indústria de café Pedro Lima.
Em Rondônia existem 150 famílias indígenas que trabalham com o cultivo do café. De acordo com pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Enrique Anastácio Alves, o órgão tem levado pesquisa e tecnologia, mas de uma forma respeitosa, pois a cultura, a tradição e o modo de produção dos indígenas, até pelo fato de estar dentro da floresta, é diferente dos outros produtores.
"Esse concurso marca uma nova trajetória na cafeicultura de Rondônia, sustentável, de um produto robusto amazônico, um café de qualidade e isso gerará frutos não só para o indígena, mas para toda a cadeia produtiva, pois um estado que valoriza um profissional indígena com sustentabilidade, valoriza a Amazônia e a cafeicultura de forma geral, também merece consumidores de qualidade", destacou Enrique. O resultado do concurso Tribos será divulgado em setembro de 2019.