Nos EUA, igrejas vendem 6.800 templos para o comércio em cinco anos
Em alguns estabelecimentos dos Estados Unidos, é possível dizer com um sorriso maroto que o “café dali é divino”.
É porque começa a ocorrer em algumas regiões daquele país um fenômeno que se registra já há algum tempo na Europa: os templos estão ficando vazios, e as congregações alugam ou vendem esses amplos espaços para cafés, restaurantes, pousadas, apartamentos lofts, cabeleireiros, bibliotecas, boates, locais de eventos festivos.
O Café na Abadia é um desses estabelecimentos. Ele fica perto de St. Louis, Illinois, no Estado da Columbia. Alí, os clientes saboreiam um café diante de uma pintura em tamanho real de freiras tomando uma refeição.
O logotipo do café é uma freirinha feliz da vida com uma xícara de café nas mãos. O que é “divertido e respeitoso”, diz Danny Ball, um dos dois sócios da cafeteria. Nos últimos cinco anos, as igrejas — católicas, protestantes e evangélicas — venderam mais de 6.800 edifícios e outros 1.400 estão à venda.
O número de ateus e agnósticos tem aumentado nos EUA, país que ainda pode ser citado com um dos mais religiosos do mundo, mas a questão é que também nas última duas décadas vem se mantendo em ascensão a quantidade de crentes que se distanciam dos seus templos.
Não tanto quanto na velocidade verificada em alguns países europeus, a secularização avança nos Estados Unidos, em um percurso sem retorno. As exceções, no mundo, ficam por conta de países atrasados, como o Brasil e os da África.
Nos Estados Unidos, as vendas de templos não são um negócio fácil de se realizar, mesmo com preços abaixo do mercado.
Trata-se de imóveis grandes, que gastam muita energia para refrigeração, com espaços amplos que inviabilizam seu uso para determinada atividades, como escolas. Salas de aulas não podem ser tão amplas.
Robert Simons, professor de planejamento urbano da Cleveland State University e autor do livro “O Reuso Adaptativa dos Edifícios e Escolas Religiosas Abandonadas nos Estados Unidos” (em livre tradução) constata que esses imóveis, construídos nos anos 40, 50 e 60, deixaram de ser funcionais e adaptá-los exige investimento de monta, de difícil retorno.
Mas a questão é mais ampla do que Simons apresenta. A perda de “funcionalidade”, a rigor, não são dos imóveis em si, mas das religiões.