Estudo alerta que pode não haver dose segura de cafeína na gestação
A cafeína é uma substância muito usada por mulheres grávidas, não apenas por hábito, mas também como meio de reduzir sonolência e fadiga durante a gestação. E está também na composição de chocolates, chás e outras bebidas do dia a dia. Contudo, no caso de mulheres grávidas, uma pesquisa experimental do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG mostra que pode não haver uma dose segura para a ingestão de cafeína.
Desenvolvida pela nutricionista Thaís de Mérici e Paula, sob a orientação dos professores Fernanda Almeida e Enrrico Bloise, do programa de Pós-graduação em Biologia Celular, a pesquisa de doutorado parte do pressuposto de que a ingestão da cafeína pode comprometer o desenvolvimento folicular ovariano, fetal e placentário. O estudo recebeu o prêmio YW Loke New Investigator Travel Award 2019, no congresso da Federação Internacional das Associações de Placenta, na Argentina.
Para avaliar essa hipótese, os cientistas testaram a ingestão das atuais doses consideradas seguras na gestação, bem como de doses mais altas. Diante da impossibilidade de experimentar em seres humanos, os testes foram feitos em camundongos prenhes, da linhagem Swiss e C-57 Black.
“Nossos resultados mostraram que as doses atualmente recomendadas de cafeína podem não apenas causar redução dos pesos fetal e placentário, mas também alterar toda a vascularização da placenta e, consequentemente, favorecer a ocorrência de uma enfermidade conhecida como da Restrição Intrauterina de Crescimento (RIUC)”, afirma Thaís de Mérici. No estudo, os fetos oriundos de mães que consumiram doses moderadas de cafeína (três xícaras de café ao dia) sofreram essa restrição intrauterina.
Com base nesses e em outros resultados, o grupo de pesquisadores do Laboratório de Biologia Estrutural e Reprodução do ICB conclui que a dosagem considerada segura de cafeína durante a gestação precisa ser urgentemente reavaliada na prática clínica com pacientes humanos. Eles observam que os cientistas já sabem que camundongos apresentam menor sensibilidade a essas substâncias na comparação com a sensibilidade humana, mas defendem que, enquanto a reavaliação não for realizada, seria sensato que mulheres grávidas evitassem o consumo de café e dos outros produtos que contêm cafeína.
“Esse cuidado extra poderia prevenir doenças e condições indesejáveis de saúde e, com isso, reduzir a necessidade de tratamentos complexos, de custo elevado, e proporcionar melhor qualidade de vida para os filhos dessas mulheres”, afirma Thaís de Mérici. Segundo a pesquisadora, tanto animais quanto humanos acometidos por RIUC podem desenvolver doenças crônicas de difícil tratamento, como diabetes, dislipidemias, obesidade, síndrome metabólica, câncer e doenças cardiovasculares. Embora mais comuns em adultos, esses problemas poderiam ter sua origem ainda na vida intrauterina e estar associados ao mau funcionamento placentário, à alimentação materna inadequada e à ocorrência de RIUC.
Trabalho premiado: O consumo de doses consideradas seguras de cafeína durante a gestação altera a biometria fetal e a morfologia placentária em modelos murinos Pesquisadora: Thaís de Mérici Domingues e Paula Programa: Pós-graduação em Biologia Celular (doutorado) Orientadora: Fernanda Almeida Co-orientador: Enrrico Bloise Alunos de Iniciação Científica: Lucas Cardoso, Guilherme Gonçalves, Luís Belotto, Felipe Prado e Hortência Oliveira Pesquisadores: Fernando Felicioni, André Caldeira-Brant, Thaís Santos, Hélio Chiarini-Garcia e Gustavo Menezes
Fonte: Assessoria de Comunicação e Divulgação Científica do ICB