Angola quer usar café para crescimento econômico mais sustentável
A Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, diz que o excesso de dependência do petróleo criou “um crescimento volátil e desigual” em Angola, mas a produção de café “pode ajudar o país a mudar de rumo.”
Em 2017, Angola produziu apenas 8 mil toneladas deste grão, uma pequena parte das 230 mil toneladas que produzia no início dos anos 70, quando disputava com a Costa do Marfim e Uganda o título de maior exportador de África.
Petróleo
Quando a guerra civil terminou em Angola em 2002, as reservas de petróleo alimentaram um crescimento econômico que durou mais de uma década. O petróleo passou a representar mais de 97% do total das exportações.
O diretor da divisão de África da Unctad, Paul Akiwumi, diz que esse crescimento "foi notável, mas dependia muito de apenas um produto e era insustentável a longo prazo".
Em 2014, esse crescimento parou, quando os preços do petróleo caíram e a economia entrou em recessão. A esperança de recuperação foi agora afastada pela crise causada pela pandemia de covid-19.
Segundo a Unctad, os lucros das exportações de petróleo ajudaram a transformar Luanda em uma das cidades mais caras do mundo, mas quase metade dos angolanos ainda vive na pobreza. Apenas cerca de 40% dos 31 milhões de pessoas têm acesso à eletricidade.
Café
O café foi identificado em 2018 como uma prioridade durante a primeira fase da Revisão Nacional de Exportações, conduzida pela Unctad e com financiamento da União Europeia.
A diretora da divisão de comércio internacional da Unctad, Pamela Coke-Hamilton, disse que o setor "representa uma enorme oportunidade devido às condições ecológicas adequadas e à alta qualidade dos grãos."
Primeiro, no entanto é preciso reabilitar o setor. Entre 2016 e 2017, menos de 50 mil hectares eram dedicados a este cultivo. Na década de 70, eram 500 mil hectares.
Comunidades
O Unctad diz que a indústria pode ser importante para as comunidades mais rurais e distantes da capital. Quase todos os 25 mil produtores de café angolanos trabalham em pequenas fazendas familiares.
Além do aumento da produção, também deve ser estudado como se pode acrescentar valor ao produto.
O presidente da Associação de Produtores de Café, Cacau e Palma do país, João Ferreira, disse que "não se deve produzir mais café apenas por produzir, é importante ter em mente o valor que se pode acrescentar.”
Isso é conseguido embalando e comercializando o produto, em vez de apenas produzir. Para ajudar, a Unctad está trabalhando com agricultores, o governo e outros envolvidos para avaliar como o país se pode posicionar na cadeia de valor global.
Além do café, a Unctad está trabalhando para desenvolver o potencial de exportação dos setores de frutas tropicais, mel e madeira do país.