Berlim – Quando a onda de infecções por coronavírus se espalhou pela Europa em março, fazendo com que as reservas de insumos médicos desaparecessem, as autoridades alemãs fizeram um apelo nacional: mais máscaras de segurança eram urgentemente necessárias.
Na Melitta, empresa pioneira em filtro de papel para café, a inspiração estava lá. "A ergonomia da coisa, o fato de o filtro se encaixar exatamente na boca, no nariz e no queixo é tão inacreditável que você pode chamá-lo de presente do céu", disse Katharina Roehrig, diretora administrativa da Melitta, sediada em uma pequena cidade no noroeste da Alemanha.
A Melitta tem uma história de 112 anos com filtros de café que começou na cozinha da mulher que os inventou, Melitta Bentz. A empresa também é dona da Wolf PVG, que produz filtros de ar e sacos de aspirador de pó há décadas, fornecendo conhecimentos valiosos e um suprimento da microfibra de três camadas, necessária para fazer máscaras de padrão hospitalar.
"Diante desse desafio em particular, percebemos que poderíamos produzir as quantidades necessárias a uma velocidade insana", afirmou Roehrig – em outras palavras, até um milhão de máscaras por dia. "Isso é o que nos diferencia da competição."
Enquanto a Alemanha luta para encontrar máscaras faciais suficientes para reabrir a economia e a vida pública ao mesmo tempo que mantém o coronavírus a distância, várias empresas sérias e não tão sérias entraram na batalha das máscaras.
Elas tentaram produzir e vender exemplares bizarros (máscaras feitas de sutiã), inesperados (a máscara Playmobil), fashion (uma máscara de algodão reciclado, feita por um designer de Berlim) e personalizáveis (por que não exibir um anúncio enquanto você se protege?).
Mas, como a chanceler Angela Merkel frequentemente reconhece, o problema crucial é garantir que os alemães tenham um número suficiente de máscaras de qualidade. "A pandemia nos ensina que não é bom quando os equipamentos de proteção são provenientes exclusivamente de países distantes. Máscaras que custam alguns centavos podem se tornar um fator estratégico em uma pandemia", disse Merkel ao Parlamento. O ministro da Economia, Peter Altmaier, estimou que o país precisa de até 12 bilhões de máscaras por ano.
Muitas máscaras que filtram pequenas partículas usando microfibra dependem de material cuja produção se mudou principalmente para a Ásia. Na corrida louca para garantir as matérias-primas, políticos e empresários decidiram encontrar uma fonte.
"Faz muito tempo que o setor de materiais têxteis não recebe tanta atenção", disse o dr. David Schmelzeisen, engenheiro têxtil que dirige o need-mask.com, que conecta fornecedores a clientes.
O ingrediente essencial em muitas máscaras de grau médico – o que as separa de versões simples caseiras – é um filtro feito de fibras superfinas não tecidas, produzidas em um processo conhecido como extrusão. Desde a pandemia, a demanda por essas fibras disparou.
Para a Melitta, a fibra está prontamente disponível: ela produz a sua própria, principalmente para uso em sacos de aspirador de pó. Um caminhão traz grandes rolos dela da fábrica de Spenge até Minden, onde a fica a sede da Melitta desde sua fundação em 1908. (A Melitta também faz filtros de café nos Estados Unidos, mas não fabrica máscaras faciais.)
As máscaras em forma de filtro de café são produzidas na mesma máquina que os filtros encontrados no supermercado. Embora se pareçam fisicamente com um filtro de café normal, elas são feitas de material diferente (o que as torna inadequadas para coar café).
O material, uma camada tripla de microfibra, possui certificação de Eficiência de Filtração Bacteriana acima de 98 por cento, um valor comparável ao das máscaras médicas simples. A empresa já produziu cerca de dez milhões de máscaras no primeiro mês, embalando-as em caixas não marcadas, com instruções de montagem e elásticos separados para colocá-las.
O primeiro milhão foi para os trabalhadores e aposentados da Melitta e suas famílias. A maior parte do segundo milhão já foi doada localmente. Quando a máscara for aprovada pelo governo como produto médico, a empresa planeja fornecê-la aos mais necessitados em sua região e, por fim, vender o produto a um mercado mais amplo. A empresa ainda não anunciou um preço.
"O importante para nós é que possamos fornecer máscaras de qualidade produzidas na Alemanha a preços competitivos com os das máscaras produzidas na Ásia antes da pandemia", observou René Korte, que supervisionou a reestruturação de uma das linhas de filtro de café da Melitta.
Korte e sua equipe estão desenvolvendo um modelo que já vem com alça, eliminando a necessidade de elásticos. Não é a primeira vez em que a Melitta considera entrar no negócio de máscaras faciais. Há cerca de uma década, a empresa aventou a possibilidade de fabricá-las porque o processo se encaixava em sua especialidade. Mas isso foi antes do coronavírus.
"A ideia de que a forma de filtro poderia servir como modelo para máscaras era absurda para muitos. A produção de máscaras respiratórias ainda era um tema de nicho para nós e, portanto, foi rejeitada", disse Korte.