Bulletproof coffee: vale a pena investir em "supercafés"?
Victor Machado, colunista do UOL
Se você acompanha as blogueiras fitness ou coaches de alta performance nas redes sociais, provavelmente já deve ter ouvido falar dos "supercafés" para aumento da energia, foco e disposição. Além disso, o supercafé também é divulgado como uma estratégia para potencializar o processo de emagrecimento. As celebridades que promovem o supercafé ainda disponibilizam um cupom de desconto para a compra do produto.
Tudo começou com os famosos bulletproof coffee (café a prova de balas), que foi uma bebida criada pelo empresário do Vale do Silício, Dave Asprey com a proposta de misturar gordura da manteiga e do óleo de coco para melhorar o funcionamento do cérebro, diminuir o apetite e aumentar o foco e a produtividade.
Ingredientes que no passado eram necessários separadamente —café, manteiga, óleo de coco —, hoje em dia já são encontrados juntos e industrializados nas lojas de suplementos alimentares. Em tese, essa praticidade facilita a vida de quem almeja aumentar a energia e a performance.
Mas será que é isso tudo mesmo?
Parece tentador um suplemento à base de café com tantos componentes que possibilitem esses milagres prometidos, mas ao fazer a análise de cada ingrediente, percebe-se que não é bem assim.
Começando pela cafeína
Já é comprovado cientificamente que ela auxilia na utilização da gordura durante a atividade física como forma de "economizar" os estoques de carboidrato do organismo, fazendo com que a performance dos praticantes de atividade física aumente. Perceba que o benefício é na performance, e não no emagrecimento. Ainda assim, os níveis recomendados de cafeína para este fim são de 3 a 6 mg por quilograma de peso.
Nos supercafés a quantidade média de cafeína por porção varia de 67 a 80 mg. Sendo assim, seria muito útil para uma pessoa de 23 kg. Nesse caso, suplementar a cafeína isoladamente seria mais eficaz e mais econômico.
L-carnitina
Tudo bem que a carnitina que o corpo produz atua na queima de gordura do organismo, mas nenhum estudo até hoje mostrou resultados no emagrecimento com esse tipo de suplementação. Normalmente os estudos utilizam doses de 4 g de carnitina, sendo que nos supercafés a dose é de 130 mg em média, ou seja, 30 vezes menos do que as doses dos estudos que provaram que ela não tem efeito.
Triglicerídeo de Cadeia Média (TCM ou MCT)
Esse triglicerídeo é encontrado principalmente em fontes como o óleo de coco e é bastante utilizado nos supercafés, seguindo a mesma proposta do café a prova de balas. Entretanto, nem os estudos utilizando doses cavalares desse óleo (60 g) encontraram benefícios no aumento da performance esportiva, concentração ou no emagrecimento. Uma porção do supercafé possui em média 5 g de óleo de coco, 12 vezes menos do que as quantidades utilizadas em estudos científicos.
"Ah, mas o supercafé tem muitas vitaminas do complexo B, assim como a colina!". Sim, é verdade! Mas repare que a colina pode ser facilmente obtida consumindo 2 ovos por dia e suplementar essa pequena quantidade sem necessidade não vai aumentar o foco e concentração. Outras vitaminas do complexo B podem ser adquiridas consumindo frutas e vegetais.
No fim das contas, o supercafé não é tão super assim. Com um simples café coado ou até mesmo um expresso você já adquire todos os benefícios do café para a saúde de forma mais econômica.
Existem aqueles que optam por utilizar esse produto pelo sabor ou a sensação de placebo que ele pode promover. Mas é importante que você se atente a não utilizar esse produto apenas cedendo ao apelo de alguma celebridade com corpo magro e definido, atribuindo os resultados estéticos ao uso desse supercafé.
Não caia nessas armadilhas da internet e lembre-se que o básico sempre funciona e para ser saudável você não precisa gastar R$ 180 em um supercafé que vai durar menos de um mês.
Obs. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL