Sem boa chuva em setembro, desastre já consolidado se ampliará bastante
Escritório Carvalhaes
Após a forte alta do café na semana passada - os contratos para dezembro próximo na ICE Futures US subiram 1070 pontos - os negócios de café abriram esta semana novamente em alta vigorosa. Na segunda-feira, os contratos para dezembro próximo na ICE fecharam o dia com ganhos de 770 pontos. Na terça-feira, os ganhos acumulados de 1840 pontos em período tão curto, levaram a uma realização de lucros. Nova Iorque trabalhou em baixa e os contratos para dezembro caíram 400 pontos. Nos demais dias, as cotações recuaram mais um pouco. Mesmo assim, no balanço da semana, os contratos para dezembro subiram 80 pontos.
Na opinião de alguns analistas, o mercado recuou nesses últimos dias com a perspectiva da chegada de chuvas nas regiões produtoras de arábica do sudeste brasileiro. Em nossa opinião, o mercado de café subiu ao longo de 2021 devido à seca que começou no segundo semestre de 2020, continuou neste ano e ainda persiste. Além disso, no mês de julho último, chegaram três frentes frias fortes e danosas sobre os cafezais brasileiros do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Uma delas trouxe geadas que queimaram cafezais no Paraná, e principalmente em nosso Sudeste, desde a baixa mogiana paulista, passando pelo sul de Minas e chegando, pela primeira vez, até o cerrado mineiro.
Portanto além da quebra da safra de arábica deste ano, de ciclo baixo e ainda prejudicada pela seca do segundo semestre do ano passado, já é certo que com a seca, que persiste até agora, e com o frio de julho, teremos uma quebra significativa na produção de arábica em 2022, com reflexos também na safra de 2023. O estrago está feito e essa é a razão da forte alta nos preços do café em 2021. As chuvas, se chegarem com bom volume, farão com que tenhamos uma produção de arábica em 2022, mas não recuperarão os danos que nossos cafezais já sofreram. Nossos cafeicultores esperam essas chuvas com ansiedade. Se não chegarem em bom volume até o final de setembro, início de outubro, o desastre já consolidado se ampliará bastante.
Hoje foi mais um dia de tempo seco e muito calor nas regiões produtoras de arábica no Brasil. Segundo a SOMAR Meteorologia, o próximo episódio de chuva nas regiões produtoras de arábica aparece entre São Paulo e Paraná somente por volta do dia 12 de setembro. Até lá, há previsão de muito calor. As máximas devem passar dos 35°C no sul de Minas Gerais, Cerrado e Mogiana entre os dias 3 e 7 de setembro. No decorrer do segundo decêndio de setembro, a chuva retorna ao Paraná, São Paulo, sul de Minas Gerais e Cerrado, mas o acumulado será baixo nas áreas de arábica, inferior aos 10mm.
Cresce a cada semana a percepção do mercado quanto à seriedade da quebra já consolidada da safra brasileira de café 2022. O problema é que as perdas ainda devem crescer. A seca continua e a cada dia que passa aumentam as perdas para nossa próxima safra 2022. Além da percepção maior sobre a quebra da safra brasileira em 2022 e 2023, a falta de estoques no Brasil e os baixos estoques nos demais países produtores e consumidores tornam o quadro ainda mais sério e sem perspectivas de uma acomodação em curto e médio prazo.
O cenário mais positivo no exterior esta semana, não contribuiu com uma queda do dólar frente ao real. Os operadores no Brasil se mostraram cautelosos com as reformas e as preocupações políticas que antecedem o feriado de 7 de setembro. Hoje, o dólar fechou com uma ligeira alta frente ao real, de 0,02%, a R$ 5,1840. Ontem caiu 0,04 %. Esse comportamento se repetiu por toda a semana. Na semana passada o dólar acumulou queda de mais de 3,5% frente ao real, e fechou valendo R$ 5,1950.
Em reais por saca, os contratos para dezembro próximo fecharam hoje a R$ 1.323,48. Ontem fecharam a R$ 1.332,48. Na última sexta-feira fecharam valendo R$ 1.320,79.
O mercado físico brasileiro permaneceu o mesmo por toda a semana: firme, comprador, mas com poucos vendedores. Hoje as ofertas permaneceram nas mesmas bases de ontem. Os cafés arábica de boa qualidade a finos trabalharam por toda a semana em um patamar entre 1.100 e 1.150 reais. Os CDs bem-preparados ficaram um pouco abaixo dos R$ 1.200,00. Praticamente não apareceram vendedores. Os cafeicultores continuaram retraídos. O volume de lotes que chega ao mercado é baixo para um final de agosto e início de setembro.
A escassez de lotes de café arábica destinados ao consumo interno brasileiro, elevou bastante os preços pagos pelas indústrias de torrefação brasileiras para lotes de arábica utilizados na produção do padrão “tradicional”, o mais consumido no Brasil. Os preços desses lotes estão subindo e se aproximando rapidamente dos preços oferecidos para arábicas mais preparados. O preço do café conilon também sobe, acompanhando a alta dos preços do café arábica destinado ao consumo interno e as altas na bolsa de Londres.
Até dia 2, os embarques de agosto estavam em 1.915.510 sacas de café arábica, 203.814 sacas de café conillon, mais 289.584 sacas de café solúvel, totalizando 2.408.908 sacas embarcadas, contra 2.638.702 sacas no mesmo dia de julho. Até o mesmo dia 2 os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em agosto totalizavam 3.002.436 sacas, contra 2.740.019 sacas no mesmo dia do mês anterior.
Até dia 2, os embarques de setembro estavam em 3.600 sacas de café arábica, mais 6.589 sacas de café solúvel, totalizando 10.189 sacas embarcadas, contra 29.349 sacas no mesmo dia de agosto. Até o mesmo dia 2 os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em setembro totalizavam 107.334 sacas, contra 208.002 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 27, sexta-feira, até o fechamento de hoje, dia 3, subiu nos contratos para entrega em dezembro próximo 80 pontos ou US$ 1,06 (R$ 5,48) por saca. Em reais, as cotações para entrega em dezembro próximo na ICE fecharam no dia 27 a R$ 1.320,79 por saca, e hoje dia 3 a R$ 1.323,48. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em dezembro a bolsa de Nova Iorque fechou com baixa de 135 pontos.