Mercado travado: Cafeicultores ficaram fora do mercado físico de café
Santos, sexta-feira, 4 de março de 2022
A invasão do Ucrânia pela Rússia dominou esta semana, mais curta no Brasil devido aos feriados de carnaval, o noticiário internacional e o brasileiro. Não é possível antever o tamanho dos estragos a curto, médio e longo prazo para a economia global e para a brasileira. Dependerá dos desdobramentos da invasão russa e do posicionamento dos EUA, países europeus e OTAN, que até o momento reagiram contra a Rússia com fortes pressões econômicas e políticas, além de fornecimento de equipamentos, armamentos e munições para a Ucrânia.
A invasão russa já havia derrubado as cotações do café em Nova Iorque na semana passada e continuou sendo pretexto para pressionar as cotações do café nas bolsas de futuro nesta semana. Os contratos com vencimento em maio próximo na ICE recuaram 575 pontos na segunda, subiram 310 pontos na terça-feira, fecharam com perdas de 680 pontos na quarta-feira e perderam mais 630 pontos ontem. Hoje trabalharam por praticamente todo o pregão em alta, na máxima do dia bateram em US$ 2,2675, e fecharam com ganhos de 135 pontos a US$ 2,2425 por libra peso. No balanço desta semana acumularam queda de 1440 pontos. Na semana passada esses contratos recuaram 735 pontos, fechando a sexta-feira a US$ 2,3865 por libra peso.
O dólar oscilou bastante frente ao real nos três dias em que tivemos pregão. Hoje subiu 0,99 % e fechou a semana a R$ 5,0780. Ontem caiu 1,57 %. Anteontem, quarta-feira, recuou 0,93 %. Na sexta-feira passada fechou a R$ 5,1560 em alta de 1,02 %.
Em reais por saca, os contratos para maio próximo na ICE em Nova Iorque fecharam hoje valendo R$ 1 506,33. Ontem, fecharam a R$ 1 482,52. Na sexta-feira passada, fecharam a R$ 1627,68 e na sexta-feira da semana anterior fecharam valendo R$ 1672,60.
Os estoques de café certificado na ICE caíram ontem 750 sacas e encerraram a quinta-feira em 1.002.588 sacas. Há um ano eram de 1.797.622 sacas, caindo neste período 795.034 sacas. Recuperaram o patamar de um milhão de sacas na quarta-feira. Fecharam a terça-feira em 994.239 sacas. Os estoques certificados caíram para baixo de um milhão de sacas no dia 18 de fevereiro último.
Índices e números que chegam ao mercado continuam indicando escassez, estoques baixos e dificuldades no fornecimento de café verde em todo o mundo. Interesses de curto prazo comandam as cotações em Nova Iorque. A invasão do Ucrânia pelos russos e as sanções econômicas e políticas à Rússia, anunciadas por países europeus e pelos EUA, apontam para dificuldades no abastecimento, e preços ainda mais altos, para fertilizantes, defensivos e combustíveis necessários à produção de nossos cafés. O argumento para derrubarem as cotações é o fato que com a guerra o consumo poderá cair na Rússia e na Ucrânia.
Na semana passada, com as fortes oscilações nas cotações em bolsa e no dólar frente ao real, os produtores brasileiros ficaram fora do mercado físico brasileiro de café, que na prática não trabalhou. Nesta semana, com as cotações na ICE novamente oscilando bastante e trabalhando em queda acentuada, os produtores permaneceram fora do mercado. O valor das ofertas recuou forte. Os compradores repassam diariamente para suas bases de preços as quedas na ICE e do dólar frente ao real. Nos preços que oferecem aos cafeicultores não aparecem vendedores. O mercado físico brasileiro travou, está paralisado.
O Diretor de Relações Institucionais da ABICS – Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel, Aguinaldo José de Lima, em entrevista hoje ao site “Notícias Agrícolas”, informou que a situação na exportação de café solúvel para Rússia e Ucrânia é muito preocupante, com pagamentos, logística e consumo. Sanções que já foram tomadas implicam nos pagamentos de café já embarcados. A Rússia é o 2º maior importador de café solúvel do Brasil, enquanto a Ucrânia ocupa a 7ª posição. Os dois países em conjunto importam cerca de 540 mil sacas de café solúvel brasileiro por ano. Aproximadamente 13,3 % de nossas exportações de solúvel. Os embarques do Brasil para os dois países geram receita próxima a US$ 100 milhões por ano.
Até dia 4, os embarques de fevereiro estavam em 2.433.221 sacas de café arábica, 75.239 sacas de café conillon, mais 249.042 sacas de café solúvel, totalizando 2.757.502 sacas embarcadas, contra 2.760.773 sacas no mesmo dia de janeiro. Até o mesmo dia 4 os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em fevereiro totalizavam 3.490.929 sacas, contra 3.393.094 sacas no mesmo dia do mês anterior.
Até dia 4, os embarques de março estavam em 2.876 sacas de café arábica, mais 3.804 sacas de café solúvel, totalizando 6.680 sacas embarcadas, contra 2.846 sacas no mesmo dia de fevereiro. Até o mesmo dia 4 os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em fevereiro totalizavam 295.832 sacas, contra 129.104 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 18, sexta-feira, até o fechamento de hoje, dia 25, caiu nos contratos para entrega em maio próximo 1440 pontos ou US$ 19,04 (R$ 96,73) por saca. Em reais, as cotações para entrega em maio próximo na ICE fecharam no dia 25 a R$ 1.627,68 por saca, e hoje sexta-feira dia 4 a R$ 1.506,33. Hoje, nos contratos para entrega em maio a bolsa de Nova Iorque fechou com alta de 135 pontos.
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