PF suspeita que Aécio tenha usado celulares de trabalhador de fazenda de café
A Polícia Federal suspeita que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tenha usado dois celulares com linhas em nomes de "laranjas" para fazer ligações secretas.
Em relatório sobre as buscas na casa do senador no Rio durante a Operação Patmos, em 18 de maio, a PF afirma que apreendeu dois celulares "cujas linhas telefônicas estavam habilitadas em nomes de supostos laranjas, razão pela qual, oportunamente, podem apresentar relevância maior para a investigação".
A PF destaca que "tratam-se de aparelhos telefônicos simples/descartáveis normalmente utilizados para conversas ponto-a-ponto (análogo a uma rede fechada) com pessoas determinadas/restritas de modo a evitar eventuais vazamentos do número utilizado na ligação, visando a maximização do sigilo das ligações".
Um dos telefones, um Nokia que "apresentava bom estado de conservação", estava em nome de Laércio De Oliveira, 60. Ele possui ensino fundamental e trabalha em fazendas no interior de Minas Gerais no cultivo de café.
Apesar de não ter concluído os estudos, Laércio tem em seu nome desde novembro de 2012 uma empresa do ramo de comércio varejista de artigos de relojoaria e de equipamentos e suprimentos de informática, informa o relatório.
"Chamou atenção que Laércio não possui nem CNH e nem veículo, possuindo ensino fundamental, é proprietário de empresa atuante em atividade comerciária diversificada e complexa para um agricultor de café", escreveu a PF.
"[O assinante] é uma pessoa simples, agricultor de café que, em tese, não pertence ao convívio social do investigado senador Aécio Neves da Cunha, donde se infere que seus dados pessoais podem ter sido usados para habilitação da linha sem o seu consentimento", diz o laudo.
O aparelho foi encaminhado para análise "em caixa original de comercialização com carregador de bateria". Na tampa traseira havia uma etiqueta de papel com dois números telefônicos impressos.
O outro telefone, da marca LG, estava em nome de Mitil Ilchaer Silva Durão. Com 26 anos, possui ensino médio incompleto, mora no Espírito Santo e seu último emprego foi de montador de andaimes. O aparelho "apresentava bom estado de conservação e foi encaminhado sem carregador de bateria", diz o laudo.
Este telefone usou chips de dois funcionários de Andrea Neves, irmã do senador, segundo os peritos: Valquíria Julia da Silva, que "possui vínculo empregatício [doméstico]" com ela desde 2009 e Agnaldo Soares, que em 2016 foi seu motorista. O último vínculo empregatício de Agnaldo foi como auxiliar de escritório na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, informa a Polícia.