El Niño ganha força e começa a incomodar o mercado do café
Por José Roberto Marques da Costa
Os contratos futuros de café arábica fecharam em alta 2,87% na bolsa de NY nesta sexta-feira rompendo o intervalo de 182,00 cents a 190,00 cents deste o começo do mês de maio fechando no maior nível dos últimos 24 dias influenciado por vários fundamentos, queda da safra do arábica, a forte escassez do café robusta que o mercado não esperava, aumento global do consumo que deve gerar um déficit de mais de 10 milhões de sacas em 2023 e o principal, fator clima que está " ganhando corpo" e deve trazer preocupação para o mercado no médio e longo prazo.
Com bom volume de 47.220 lotes em NY, julho teve alta de 5,35 cents fechando a 192,00 cents, variando de 186,20 cents a 194,40 cents ( maior nível desde 26 de abril ), ultrapassando as três resistências do dia, 187,98 cents, 189,32 cents e 191,63 cents com índice DXY em queda depois de chegar nos maiores níveis em 60 dias no pregão de ontem. Na semana, os contratos de café arábica teve valorização de 9,15 cents. Os estoques certificados ficaram estáveis em 629.810 sacas esta sexta-feira, acumulando queda de 70.238 sacas nos últimos 30 dias
Depois de 3 semanas operando dentro de um pequena margem, o café arábica mostrou sua força nos dois últimos pregões, na quinta-feira foi uma das únicas commodities a fechar em alta e hoje conseguiu romper o nível de 190,00 cents, influenciado por vários fundamentos positivos, quebra de safra de robusta do Vietnã e Indonésia, mais a quebra da safra do Brasil e Colômbia e sem mencionar o clima com a entrada de mais três massas polares nos próximos 60 dias e o fundamento principal, o El Niño.
Com a chance de El Nino ocorrer este ano é de mais de 90%, nas últimas semanas, as informações praticamente diárias sobre o El Niño estão ganhando força e começa a incomodar vários setores do mercado devido a intensidade do fenômeno que há mais 60 dias consecutivos está provocando recordes de temperaturas globais oceânicas ( veja a matéria abaixo ). A preocupação do prejuízo que o El Niño vai trazer a cultura do café está aumentando, com estiagens e ondas de calor extremos em várias regiões de café ( Vietnã, Índia, Colômbia e países da América Central e da África). A partir do próximo semestre pode começar afetar as principais regiões de café do Brasil podendo se prolongar até o ano de 2024, provocando escassez de chuvas e altas temperaturas na época de formação do frutos, comprometendo a safra do próximo ano.
Diante desta informações meteorológicas, a tendência é que os grandes fundos de investimentos é se proteger e aumentar ainda mais suas posições compradas nas próximas semanas, provocando uma forte recuperação dos preços do café arábica e continuação da valorização do robusta. Por este motivo é que Agnocafé fez o alerta hoje no site " a bolsa de NY e Londres será a uma das menores preocupações dos cafeicultores nos próximos seis meses " e tudo indica que os "vendidos" deverão passar por um fase muito difícil nos próximos meses diante deste panorama climática.
Segundo Edurado Carcalhaes, "as informações sobre problemas na produção mundial de café continuam chegando ao mercado semana após semana. Os números sobre o consumo ao redor do mundo permanecem positivos e os estoques de café, tanto nos países produtores como nos consumidores são pequenos, bem abaixo dos números históricos. Na última segunda-feira, dia 15, quando os operadores aguardavam a divulgação dos estoques americanos de café verde, inesperadamente, a GCA – Green Coffee Association dos EUA, informou que não mais divulgará seus estoques, privando o mercado de um importante indicador, sem nenhum esclarecimento sobre sua decisão. Mesmo com todos esses indicadores, que apontam um preocupante quadro de aperto entre produção e consumo mundial, os operadores no exterior parecem acreditar que a nova safra brasileira, que começa a ser colhida, resolverá sozinha os problemas de abastecimento do mercado mundial de café".
Segundo informações de Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), nos mês de maio, até dia 19 foram embarcadas 1.200.646 sacas de café ( 63.192 por dia ), queda de 18,1% em relação ao mês de abril. Do total, 977.851 sacas foram de arábica, 50.890 sacas de conillon e 171.908 sacas de solúvel. A projeção no mês de maio indica exportação de 2,25 milhões de sacas, queda de 19%
O relatório da CFTC divulgado hoje, referente a 16 de maio, mostra aumento de 8,2% suas posições líquidas compradas dos grandes fundos, leve aumento de 414 lotes em suas posições compradas e queda de 1.364 lotes em suas posições vendidas e neste período a alta foi de 1,30 cents. Segundo os números apresentados, levando-se em consideração apenas as posições futuras os grandes fundos possuíam 12.878 posições líquidas compradas sendo 32.732 posições compradas e 19.054 posições vendidas).
Fazendo uma comparação de previsão de safra do Brasil entre a Conab e IBGE e a média dos traders a diferença varia de 7 a 10 milhões de sacas, a Conab e IBGE estimam safra em torno de 55 milhões de sacas e os traders entre 62 milhões a 65 milhões de sacas. A enorme diferença é a safra anual da Colômbia que deve ficar em 9 milhões em 2023. Sempre mencionei o mercado é soberano e deve decidir no médio prazo que está certo.
A Conab divulgou ontem que a produção brasileira de café na safra 2023 deve ficar em 54,74 milhões de sacas, sendo que a produção arábica deve ficar em 37,93 milhões de sacas, alta de 6 milhões de sacas em relação ao ano passado. As estimativas de traders estão entre 40 milhões a 42 milhões de sacas, uma diferença que varia de 2 a 4 milhões de sacas de café arábica. A produção do café robusta deve chegar a 16,81 milhões de sacas, redução de 1,280 milhões de sacas ante ao ano anteriores. As estimativas de traders estão indicando produção de 22,5 milhões de sacas, que representa um diferencial de 5,7 milhões de sacas.
Os contratratos de café robusta fecharam em alta US$ 48 a US$ 2.588, variando de US$ 2.538/t a US$ 2.607 ( maior nível em 12 anos ), valorização de US$ 153 na semana, com os comerciantes relatando a extrema dificuldade em comprar grãos na Ásia para cumprir os contratos devido aos altos preços locais e uma forte crise oferta do Vietnã e Indonésia. O aperto na oferta de café robusta continua estimulando a compra de fundos de futuros de café robusta.
"Um fator que sustenta o rali são as baixas exportações brasileiras de robusta até agora... Os estoques brasileiros estão subindo e esse café logo aparecerá nas exportações, já que não pode ser todo consumido internamente", disse o Rabobank em nota, acrescentando que os preços precisam subir o suficiente para incentivar as exportações brasileiras. Segundo a Cecafé, até 19 de maio foram embarcadas 50.890 sacas de café robusta, queda de 55% em relação a abril. Colheita de café robusta do Brasil está em torno de 18% concluída, um pouco abaixo da média de 20% nesta época do ano, segundo a consultoria Safras & Mercado
O Departamento Geral da Alfândega do Vietnã informou nesta semana que as exportações de café do Vietnã em abril caíram 22% para 2,727 milhões de sacas, as exportações de café de janeiro a abril caíram 5,5% para 11,943 milhões de sacas. Entre os dois maiories produtores de robusta os embarques cresceram três dígitos. Em matéria de ontem de jornal de economia do Vietnã relata que a exportação de café do país para a Indonésia teve alta de 209% no primeiro trimestre de 2023 ante ao mesmo perído do ano passado.
"Está difícil comprar café no Vietnã para cumprir contratos", dizem os traders
Segundo a agência Reuters, ss preços domésticos do café no Vietnã subiram na quinta-feira em relação à semana anterior devido a uma crise de oferta, enquanto na Indonésia os prêmios ampliaram os ganhos devido à fraca produção da safra atual. Agricultores no Vietnã venderam café entre US$ 2,35 a US$ 2,45 por quilo, que equivale de R$ 705,00 a R$ 735,00 a sacas de 60 quilos. Alguns traders disseram que o fechamento de hoje atingiu a maior alta em 16 anos. “É muito difícil comprar café na Ásia agora para cumprir os contratos assinados.
Os preços estão muito altos e, além disso, a oferta é limitada”, disse um exportador da cidade de Ho Chi Minh. Os preços de exportação caíram para prêmios esta semana devido às atividades fracas e estoques vazios, de acordo com traders. Traders do Vietnã ofereceram 5% de robusta preta e quebrada de grau 2 com um prêmio de US$ 150 a US$ 160 por tonelada para o contrato de julho.
Mercado interno na Indonésia está muito agitado devido a escassez, os grãos de café Sumatra robusta foram oferecidos com um prêmio de US$ 140 em relação ao contrato de julho, em comparação com o prêmio de US$ 60 da semana passada. “Os preços subiram em relação à semana passada porque a oferta de café foi limitada devido às pequenas safras”, disse um trader da região. “Algumas áreas começaram a colher, mas os rendimentos não são grandes.”
Outro trader ofereceu um prêmio de US$ 170 a US$ 200 para o contrato de julho a agosto, em comparação com o prêmio de US$ 100 da semana passada para o contrato de maio a junho. “A oferta limitada fez com que os exportadores lutassem pelos grãos e fez com que os preços locais subissem mais do que os preços globais”, disse o segundo trader.
Alerta mundial: 60 dias consecutivos batendo recordes de temperaturas globais oceânicas
Nos últimos anos, o aquecimento global tem sido alvo de preocupação devido aos seus efeitos sobre o nosso planeta. No entanto, um dos aspectos menos conhecidos, mas igualmente importante, é o aumento da temperatura dos oceanos. Recentemente, assistimos a um fenômeno sem precedentes: 60 dias consecutivos de recordes de temperatura oceânica que superaram recordes anteriores. Os oceanos atingem temperaturas históricas e durante estes últimos dias, as temperaturas globais da superfície do mar atingiram níveis recordes, as mais altas em 42 anos,
À medida que a mudança climática segue seu curso, os oceanos estão aquecendo rapidamente. No passado, os eventos de El Niño exacerbaram esse aquecimento, com o ano de 2016 testemunhando um dos episódios mais intensos, que desencadeou um período de 12 meses com as temperaturas mais altas já registradas na Terra. Como resultado, espera-se que os recordes de temperatura oceânica deste mês sejam amplamente superados nos próximos meses, representando uma ameaça ainda maior aos nossos ecossistemas marinhos e ao clima global.
Cresce a chance de 2023 ser o ano mais quente do planeta na era observacional, informou nesta quarta-feira a Berkeley Earth, da Universidade de Berkeley, da Califórnia, nos Estados Unidos. O motivo é a perspectiva de maior aquecimento do planeta nos próximos meses com um evento de El Niño.
Abril de 2023 continuou com o padrão contínuo de calor generalizado, embora com algumas exceções. Condições particularmente quentes estavam presentes em partes da Ásia, partes da América do Norte, Antártida, África e várias áreas oceânicas. Condições particularmente frias estavam presentes no Alasca, na Índia, em partes da Ásia Central e no Centro do Canadá.
Se o El Niño se desenvolver, é provável que aumente moderadamente as temperaturas médias globais durante o restante de 2023 e até 2024. Devido ao atraso entre o desenvolvimento do El Niño e seu impacto total nas temperaturas globais, é provável que qualquer El Niño terá um impacto maior nas temperaturas globais de 2024 do que em 2023, afirma a universidade.
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