Mais uma semana onde os “vendidos” tentaram derrubar o mercado. Durante os 5 pregões o Set-23 negociou na “mínima do dia” respectivamente @ +155,10 / +155,05 / +155,15 / +155,25 / +156,50 centavos de dólar por libra-peso. Aos poucos parece que o mercado está começando a reavaliar seus números e expectativas com a safra brasileira 23/24 bem como a próxima safra do Vietnam.
Na segunda feira o mercado iniciou caindo -500 pontos com a divulgação dos dados do pib chinês abaixo do esperado (“apenas” +6,30% x expectativa +6,90% no segundo trimestre 2023). No final, o Set-23 encerrou a semana conseguindo se recuperar e fechando praticamente no mesmo valor da semana passada (fechamento anterior / máxima / mínima / fechamento respectivamente @ +160,80 / +162,10 / +155,05 / +161,85 centavos de dólar por libra-peso – com base no “ajuste de fechamento” (porém notar que o último negócio no Set-23 foi @ 160,85 centavos de dólar por libra-peso)!
O R$ voltou a valorizar e terminou @ 4,77 R$/US$. A combinação “NY + R$” não ajudou o produtor brasileiro. Em R$/saca o mercado interno continuou negociando nos +830/+930 R$/saca (dependendo tipo/qualidade/local de entrega). Porém, café arábica tipo “rio”, dependendo da qualidade, já praticamente igualou no preço com o café tipo robusta@ +650 R$/saca!
Café tipo robusta continua firme e forte. O contrato em Londres – com vencimento Julho-23 no próximo dia 25 de julho – voltou a fechar acima dos +2.800 US$/tonelada @ +2.827 US$/tonelada. Ainda tem aproximadamente +1.100 lotes em aberto nesse vencimento. O “squeeze*” nesse vencimento veio pra ficar! Tem gente “correndo atrás” do mercado tentando zerar posição. Nos próximos 2 pregões poderemos ver novamente Londres trabalhando “descolado” de Nova Iorque e quebrando novos recordes de preço. O Set-23 também voltou a fechar acima dos +2.600 US$/tonelada @ +2.602 US$/tonelada!
O Departamento Geral da Alfandega do Vietnam publicou nova estimativa para a safra 23/24 em apenas +27,80 milhões de sacas e o Rabobank também reduziu a estimativa para +29,50 milhões de sacas (grande parte do mercado estava trabalhando com a próxima safra do Vietnam em +31,50 milhões de sacas)! Por outro lado, o Rabobank continua apostando na safra brasileira 23/24 para o café tipo robusta em +23,00 milhões de sacas x Conab em +16,81 milhões de sacas.
Alguém ficou sabendo do “dilúvio” que ocorreu em Minas Gerais nessa semana? Segundo a Somar Meteorologia, na segunda-feira “a região de Minas Gerais, no Brasil, recebeu +5,1 mm de chuva na semana anterior, ou 850% da média histórica”. E “justificou” que o “mercado subiu” em função do excesso de chuvas ter prejudicado as operações da colheita – sendo o estado de Minas Gerais responsável por cerca de 30% da safra de arábica do Brasil!
Os estoques certificados, ou melhor, “os estoques certificados – volume morto”, encerrou a semana em +535.870 sacas. Pelo jeito algum comprador encontrou um pequeno lote de café brasileiro ainda em boas condições. O estoque certificado do café brasileiro caiu agora para +159.777 sacas e as demais origens continuaram iguais (sendo o famoso estoque de café Honduras inalterado em +350.583 sacas). E apenas +4.300 sacas aguardando certificação, sendo praticamente 98% origem Colômbia!
A exportação brasileira para o mês de julho-23, com projeção nos dados da Cecafé, deverá ficar ao redor +2.600.000 sacas.
A colheita da safra 23/24 continua sem problemas porém com produção e rendimento muito abaixo do esperado (segundo informações de armazéns, produtores, corretores). Ao que tudo indica a safra brasileira 23/24 vai mesmo ficar abaixo dos +60 milhões de sacas! E já tem gente ainda acreditando em uma safra <= +55 milhões de sacas!
Rumores no mercado onde alguns grandes torrefadores no destino estão tentando comprar produto brasileiro pedindo prazo para pagar em até 360 dias da data do embarque (bl – bill of lading – O Bill of Lading (BL) é o conhecimento de embarque marítimo/aéreo, documento que assegura a condição da carga embarcada, além de ser um contrato estabelecido entre o embarcador e o transportador. Trata-se do documento de transporte mais importante no comércio exterior.
Assim como em outros conhecimentos de carga (por exemplo, para o transporte rodoviário), o BL orienta as relações contratuais entre as partes e é considerado um título de crédito, pois a responsabilidade da carga é repassada ao transportador.
Desse modo, se a carga chega ao transportador com alguma avaria, o transportador – que nesse caso é o comandante do navio ou o representante do armador, como uma agência marítima -, deve indicar esse problema no BL para que a responsabilidade do dano da carga não recaia sobre ele. A cláusula clean on board indica que as mercadorias estão em bom estado aparente, de acordo com as marcas e numeração fornecidas pelo embarcador.
O BL é um documento cuja finalidade é, portanto, um recibo de entrega da mercadoria, pois a posse do BL comprova o recebimento da carga para transporte; um título de crédito, pois garante a retirada da mercadoria junto ao transportador no destino final e; um contrato de transporte entre embarcador e transportador, uma vez que é emitido após o embarque da mercadoria.
No BL deve constar várias informações pertinentes ao armador e ao embarque, conforme solicitado nos campos a serem preenchidos, tais como: denominação da empresa emissora; número do conhecimento; data da emissão; nome e viagem do navio; embarcador; consignatário; notificado, portos ou pontos de embarque, destino e transbordo; tipo da mercadoria e suas características gerais como: quantidade, peso bruto, embalagem, volume, marcas, etc.; container e suas características ou o pallet, conforme o caso, frete e local de pagamento; etc.).
Muito cuidado, pois esse “comprador” poderá deixar de existir no meio do caminho e o seu pagamento/crédito “virar pó”, além do vendedor ainda ficar sem a sua mercadoria! Se o comprador não tem dinheiro, melhor vender no mercado interno e/ou deixar o produto armazenado ao invés de correr risco de crédito! Muito cuidado, atenção redobrada! O importador, senão tiver condições em pagar à vista, que vá atrás das linhas de crédito, aprovar seu crédito/limite com os bancos com quem tem relacionamento! Se não pagarem à vista não vendam! Como dizia meu ex-chefe e hoje um dos principais empresários do Brasil – Sr Rubens Ometto – “Eu não sou banco! Quem quiser meu produto que o pague à vista!
Continuo positivo no curto/médio prazo. Em breve acredito que os fundos + especuladores irão começar a reverter a posição de “vendidos” para “comprados” com o Set-23, e possivelmente o Dez-23, voltando a negociar acima dos +180 centavos de dólar por libra-peso – refletindo no mercado interno voltando a negociar, pelo menos, acima dos +950 R$/saca.
Os fundos + especuladores continuaram “vendendo” e, segundo último relatório do CFTC* agora estão vendidos em -15.358 lotes.
Para o produtor que necessita vender seu café agora e/ou se proteger contra as travas realizadas nos últimos anos e que estão sendo entregues indico a compra da opção de compra “call*” strike +165,00 centavos de dólar por libra-peso no Dez-23. Nessa semana essa opção começou negociando @ +6,20 centavos de dólar por libra-peso (+39,50 R$/saca) e encerrou @ +8,40 centavos de dólar por libra-peso (+53,00 R$/saca). Considerando um “desconto de compra” em -30 pontos, comprando esse seguro contra alta, o produtor terá o seu “break-even*” a partir do mercado interno negociando @ >= +950 R$/saca!
Protejam-se!
Boa semana a todos!
Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.