Apenas 1 em cada 20 brasileiros consome bebida gourmet
O Brasil é o maior produtor de café do mundo, responsável por mais de um terço da produção global, em torno de 40%.
No entanto, o consumo de cafés de maior qualidade se limita a uma pequena parcela da população brasileira, apesar do país ser o segundo maior mercado consumidor da bebida, com 21,3 milhões de sacas de 60 quilos por ano.
Dessa forma, o Agro Times ouviu o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Celírio Inácio, para entender um pouco mais sobre o cenário de produção, exportações e principalmente de consumo.
Consumo de café no Brasil
De acordo com dados da Pesquisa Perfil do Consumidor de Café, que Busca Qualidade da ABIC, em parceria com o São Paulo Coffee Hub, o café gourmet faz parte do dia a dia de apenas 5% do público geral, ou seja, 1 em 20 brasileiros consomem a bebida. Entre os entusiastas, a porcentagem de consumo é de 35%, enquanto para os especialistas, é de 19%.
A pesquisa contou com 5460 respondentes. Do total, 4514 (83%) foram do público geral, 698 (13%) dos entusiastas, e 248 (5%) dos especialistas. mEm termos de volume, as categorias de cafés superiores/gourmets ainda representam um recorte pouco representativo. Assim, cerca de 90% do consumo no país é de cafés tradicionais e extrafortes.
Qualidade do café brasileiro
Segundo a ABIC, existem quatro categorias de cafés no Brasil, são eles: Tradicional, Extraforte, Superior e Gourmet. A Associação ressalta que o nome café premium refere-se ao café gourmet, que não deve ser confundido com café especial. A ABIC não certifica Cafés Especiais, uma vez que a sua certificação se refere à classificação de cafés torrados.
A classificação de um café como especial é uma avaliação que utiliza metodologia para a avaliação de cafés verdes (crus), não traduzindo necessariamente o nível de qualidade desse grão torrado.
Tradicional e extraforte
São cafés caracterizados por atributos sensoriais com uso de uma análise técnica baseada no Perfil Sensorial Descritivo, possuindo características de uma bebida de amargor intenso, pouca doçura, encorpado e adstringente. Alguns atributos adicionais mais comuns são: o sabor amadeirado e tostado e, tem como matéria-prima principal a maioria dos cafés cultivados no Brasil.
Estas categorias são percebidas pelos consumidores como uma bebida marcante, com amargor característico e forte.
Superior
Essa categoria de café é caracterizada como uma bebida de amargor, doçura e acidez variando de leve a moderado e possui alguns atributos adicionais como o sabor amendoado e chocolate.
Em relação à percepção dos consumidores, a categoria é percebida como um café suave, com um amargor e acidez leve, frutada com notas de caramelo, e com aroma e sabor.
Gourmet
A categoria de café gourmet, possui características de uma bebida de baixo amargor, acidez e doçura moderada a alta, com destaque para os atributos frutado e floral.
Em relação à percepção dos consumidores, a categoria é percebida como um café suave, porém, doce, ácido, frutado e cítrico. Esta categoria tem como matéria-prima principal uma pequena parcela dos cafés cultivados no Brasil.
Em relação às vendas de cafés Gourmet no varejo, os dados da Horus, encomendados pela ABIC, mostram que houve uma queda de 0,09% entre os meses de fevereiro e março de 2023. Já nas vendas da categoria superior para o mesmo período, a pesquisa mostra uma queda de 19,90%.
Assim, o dado mostra que no varejo, não é possível verificar uma curva de crescimento consistente nas categorias consideradas “premium”.
O brasileiro tem preferência por um café de menor qualidade?
De acordo com Inácio, a máxima de que o brasileiro se acostumou com uma bebida de menor qualidade precisa ser revista.
“Desde que foi criado o Selo de Pureza da ABIC em 1989, a qualidade do café consumido no Brasil aumentou de maneira bastante significativa. De uma média de 30% de impureza nos cafés de supermercado, passamos para 1%. Hoje, há uma regulamentação que pune e tira das prateleiras quem frauda o café ou quem quer ‘vender gato por lebre’, caso dos produtos que não são feitos com arábica ou conilon, mas se utilizam da paixão que o brasileiro tem pelo café para enganar o consumidor”, explica.
Grupo Bergamasco X BTRA11: Entenda o impasse que levou à queda do fundo imobiliário Para o diretor executivo da ABIC, o aumento da qualidade é resultado direto da melhoria da produção cafeeira no campo, com um manejo mais focado em qualidade e novas técnicas tanto no cafezal, quanto no pós-colheita.
“Outro sinal desse ganho de qualidade é a criação do Selo de Qualidade da ABIC, em 2004. A indústria havia evoluído e era preciso sinalizar para o consumidor que ‘café não era tudo igual’. Os Selos e toda a metodologia de certificação são referências internacionais, pois contribuem para guiar o consumidor, resultando diretamente em aumento de consumo”, discorre.
Sabor amargo
Quando a ABIC foi criada, em 1973, o consumo per capita no país girava em torno de 2 kg/ano. Atualmente, está em 5 kg/ano. Dessa forma, Inácio ressalta que é preciso parar de confundir qualidade com preferência de sabor.
“O brasileiro prefere o café que é descrito pelo consumidor como ‘marcante, forte, com amargor intenso’, essencialmente os cafés tradicionais e extrafortes, e isso não significa necessariamente que esse café não tem qualidade. É um paladar diferente. Dentro das bebidas que apresentam essas características, temos, sim, diferentes qualidades de café atualmente, com a indústria preocupada em atender esse consumidor”, diz.
Preços
Assim, o diretor da Abic explica que o preço da bebida no depende de diferentes fatores como a safra mundial, expectativa de clima, economia global e consumo
“O Brasil possui a maior produção mundial e variedades de espécies de excelentes qualidades, o que nos facilita acesso à matéria-prima, mas não assegura o preço. Porém, a boa notícia é que estamos em um ano de colheita dentro da expectativa, clima favorável e um consumo pujante, o que afasta a possibilidade de aumento no preço, como visto nos últimos dois anos”, comenta.