Como o corpo humano vai reagir ao estresse térmico?
Há mais de uma década, dois cientistas climáticos definiram o que consideravam na altura ser o limite superior da capacidade de sobrevivência humana: 35°C, 100% de umidade, também conhecido como limiar de bulbo úmido. Nessas condições, uma pessoa, não importa quem seja ou onde viva, não consegue liberar calor suficiente para permanecer viva por mais do que algumas horas.
Um novo estudo publicado na Science Advances conclui que as temperaturas que se aproximam do limite vão se tornar cada vez mais comuns em um mundo mais quente, tornando as ondas de calor mais letais.
Prestes a atingir a temperatura limite do corpo humano
Períodos de calor e umidade elevados, potencialmente fatais, irão se espalhar por todo o mundo com apenas um pequeno aumento nas temperaturas globais, contribuindo para uma aceleração acentuada no número de mortes resultantes da crise climática.
Normalmente o corpo humano se resfria produzindo suor, que evapora e retira o calor. Mas quando a umidade é alta, a evaporação é reduzida.
O estudo utilizou um limite baseado em experiências com pessoas e mostrou que quando o calor ultrapassa os 31,5°C, o corpo já não consegue se resfriar. Os pesquisadores chamaram este limiar de “estresse térmico não compensável”, uma vez que a transpiração não consegue compensar as condições extremas.
Sem recursos de resfriamento, como água fria, ventiladores ou ar condicionado, a morte é provável em poucas horas. A investigação analisou dados de milhares de estações meteorológicas em todo o mundo para mostrar que 4% já tinham experimentado pelo menos 6 horas de estresse térmico extremo desde 1970, com a possibilidade de tais eventos duplicar.
Quais regiões mais sofreriam com o estresse térmico?
O estudo também utilizou modelos climáticos, mostrando que o stress térmico irá se espalhar rapidamente para outras regiões com aquecimento global de apenas 2°C. As temperaturas globais já aumentaram cerca de 1,2°C, e a 2°C, mais de 25% das estações meteorológicas sofreriam o stress térmico extremo uma vez por década, em média.
Os pesquisadores descobriram que partes do mundo já ultrapassaram esse limite! Eles identificaram 21 estações que registraram condições que excederam o limiar não compensável entre 1970 e 2020, principalmente o Golfo do Pérsico e o Sul da Ásia.
As regiões da costa leste e centro-oeste dos EUA e da Europa Central, incluindo a Alemanha, estão entre os locais que seriam mais atingidos pelo calor extremo. Além disso, outros lugares vulneráveis incluem Golfo no Médio Oriente, Mar Vermelho e a Planície do Norte da Índia, onde as pessoas esperam um calor extremo.
Em locais que já são quentes, como o Arizona, Texas e partes da Califórnia, os períodos de stress térmico extremos tendem a se tornar eventos anuais, ocorrendo em todos os continentes, exceto na Antártica, e cada vez mais intensos.
De todas as diferentes manifestações das alterações climáticas, o calor é a que mais me preocupa pessoalmente e esses resultados deixaram-me mais preocupado, afirmou Cartes Powis, da Universidade de Oxford, que liderou a pesquisa.
As projeções não são nada animadoras!
Muitas pessoas enfrentarão essas condições de calor extremo à medida que o planeta continuar a aquecer devido à combustão de combustíveis fósseis. Esse é um grande problema para áreas onde as pessoas não estão acostumadas ao calor extremo e não tem ar condicionado, afirmou Powis. Em 2010, uma intensa onda de calor contribuiu para mais de 50 mil mortes na Europa e na Rússia, em parte porque estas populações não esta adaptadas a tais temperaturas.
Powis projeta que tais catástrofes se tornarão muito mais comuns e aponta a Costa Leste e o Centro-Oeste como alguns lugares nos Estados Unidos que poderão sofrer grandes saltos. O calor extremo deste verão pode ser insignificante em comparação, e Powis diz que estas regiões precisam de começar a preparar-se agora para lidar com um calor que nunca experimentaram antes.
“Se continuarmos a aquecer o planeta, os eventos extremos começarão a ultrapassar estes limites onde, de repente, estaremos a lidar com um tipo completamente diferente de onda de calor”, disse ele. “As ferramentas e experiências que você teve no passado não são mais relevantes.”