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Garcafé quita dívidas e passa a discutir possível reabertura


Desde o dia 05 de maio de 2005, a Garcafé (Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça) vem sendo controlada por uma comissão liquidante, depois de enfrentar graves problemas financeiros, com dívidas junto ao governo, a colaboradores e fornecedores além de diversos associados que depositaram seus cafés nos armazéns da empresa.

Segundo José Wilson Lopes, presidente da comissão, ao longo desses 18 anos foram sendo buscadas saídas para contornar as dívidas. Os armazéns foram alugados e a receita decorrente desse processo permitiu manter a Garcafé aberta e, dessa forma, algumas ações pudessem ser desenvolvidas para contornar os vários problemas existentes.

Um passo importante nesse processo foi a disposição do cooperado Flávio Peres, empresário da PPA, que apresentou seu interesse em adquirir a unidade da cooperativa na cidade de Patrocínio, no cerrado mineiro. Esse movimento abriu perspectiva para que a comissão pudesse negociar com empresas credoras, já que elas passaram a ter um quadro concreto de que havia garantias financeiras por parte da Garcafé. Posteriormente, a empresa que já alugava as instalações na cidade mineira, exercendo seu direito de preferência, efetuou a aquisição daquela unidade.

Desde o início da implantação da comissão liquidante, houve a busca para pagar os direitos dos trabalhadores, tendo havido um processo de cobrança junto aos cooperados, num prazo de 12 meses, para que todos os colaboradores tivessem seus acertos cumpridos. 

Posteriormente, foi desenvolvido um trabalho focado no pagamento do Fundo de Garantia, cuja dívida chegou próxima dos R$ 30 milhões. Com um desconto oferecido pelo governo federal, esse passivo conseguiu ser quitado por em torno de R$ 11,5 milhões.

"Eu acredito que nossos grandes credores, vendo isso daí, se dispuseram a negociar. Agora, a gente precisava de dinheiro. Não tinha aqui caixa nenhum. Então, algumas dessas empresas exigiram garantias de que nós íamos pagar", indicou Lopes. 

Ele ressaltou que esse caixa — e também as garantias — passou a ser formado com a venda da unidade de Patrocínio. Tal transação permitiu levantar uma receita considerável, de cerca de R$ 24 milhões. 

Com esse montante, foi possível efetuar o acerto com fornecedores, depois de diversas negociações para que a dívida existente, de cerca de R$ 50 milhões, fosse recalculada. Além disso, o valor também permitiu que os cooperados que aguardavam receber o montante correspondente aos cafés depositados também fossem pagos.

"Aos nossos cooperados que tinham cafés a receber pagamos o preço do dia em que fizemos a proposta, que era de R$ 1,1 mil por saca, um ótimo preço", ressaltou o presidente.

Em Patrocínio, além da estrutura da Garcafé, a cooperativa também contava com aproximadamente 300 terrenos, fruto do pagamento de uma dívida de um cooperado. Após o acerto junto à Receita Federal, esses terrenos puderam ser também negociados, tal qual ocorreu com o imóvel da filial mineira. Vários desses terrenos foram revertidos para alguns associados que tinham valores de café a receber, ajudando, assim, a também quitar os passivos existentes junto aos cooperados do cerrado.


Apresentação — Toda essa situação, os números envolvidos nas operações e outros dados relevantes serão apresentados, na próxima sexta-feira, 22, em uma assembleia a ser realizada pela Garcafé, visando, assim, que todos os cooperados tenham o conhecimento de que a cooperativa atualmente não é mais devedora. "Uma equipe, que tem o Flávio Peres e o Estevão Brandão à frente, estará aqui para fazer uma demonstração e esclarecer a todos o que foi feito", explicou Lopes.

Mas, afinal, essa assembleia pode ser um novo passo para a reabertura da Garcafé? "Nós estamos em auto liquidação. É uma situação muito estranha dentro de uma empresa. A Garcafé hoje está cuidando das dívidas, quitamos com a Receita Federal. Assim, nada mais justo que a cooperativa abrir. O problema de abrir é que nós hoje, com tudo que fizemos, ficamos com caixa praticamente zero. Então, o que nós precisamos agora é fazer aquele trabalho em que possamos colocar o nosso caixa em dia para poder contratar as pessoas que serão necessárias para a operação", salientou.

O presidente da comissão sustentou que, caso a reabertura se dê, haverá a necessidade de se buscar novos cooperados, assim como uma estrutura para receber, armazenar e comercializar o café terá de ser montada. Diante desse quadro, outra assembleia deverá ocorrer em março de 2024.

"O objetivo dessa outra assembleia vai ser exatamente com o objetivo de chegar aos cooperados e dizer que pelas propostas que nós temos, pelas ideias apresentadas, podemos fazer isso e isso. Será um período de cerca de cinco meses para o pessoal de Garça pensar, analisar o que podemos fazer e eles trazerem suas ideias aqui. Nesse período nós vamos atualizar o sistema, já que hoje a administração de uma cooperativa tem de ser muito profissional", complementou Lopes.

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