Experiência turística em Minas envolve café, azeite e vinho
Café, azeite e vinho formam um tripé interessante do turismo de experiência na serra da Mantiqueira, cadeia de montanhas de aproximadamente 500 km de extensão abrangendo três Estados – Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro – e que atrai turistas praticamente o ano todo. Esse turista viaja para a região seduzido pelas inúmeras opções de vivências que conectam clima serrano e ruralidade a gastronomia e ecoturismo, principais segmentos atualmente desenvolvidos pelo Circuito Turístico Caminhos da Mantiqueira, formado por 16 municípios. Uma das cidades do circuito, Cristina é caracterizada pelo grande número de produtores de cafés especiais, a tradição musical das bandas de música, os casarões históricos preservados, a religiosidade e as paisagens surpreendentes.
Da MG–347 já se avista o instagramável cenário das montanhas que abraçam o casario colonial, com a Paróquia do Divino Espírito Santo a dominar o visual. Conhecida como “cidade Imperatriz”, Cristina é uma homenagem à princesa Isabel, que teria em 1868 visitado a região junto com o marido, o Conde D’Eu. A antiga vila de Espírito Santo de Cumquibus adota então o segundo nome da mãe imperatriz, Teresa Cristina, casada com Dom Pedro II. Um “bate-perna” pelas ruas da cidade e é possível deparar-se com o Escadão do Mosaico, do artista Carlos André Vizotto, com seus cacos de pisos e azulejos coloridos, o Museu do Trem, com a locomotiva de 1911 e mais de 400 peças que resgatam sua história, o chafariz da praça, as ruas calçadas com paralelepípedos e uma cachoeira quase no meio da cidade, a da Gruta.
A pequena Cristina, com pouco mais de 10,3 mil habitantes, no entanto, esconde quase todos os seus tesouros na área rural, entre eles pequenos produtores familiares de cafés especiais, que, por duas vezes, já foram eleitos o melhor do mundo; trilhas que levam ao parque do Anil, construído sobre o antigo leito ferroviário, ao pico da Pedra Branca, cartão-postal da região, a 1.847 m de altitude; ao pico da Tuiúva, com 2.020 m, de onde se avista os Estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro; ao morro do Alemão, a 1.458 m, e ao mirante do Balanço, onde se “voa” sobre a paisagem ao sabor do vento. Todas as atividades de ecoturismo estão em um raio entre 6 km (morro do Alemão) e 16 km (pico do Tuiúva) e podem ser combinadas com banhos de cachoeira, cavalgadas ou degustação de queijos, cafés e vinhos.
O guia de turismo Rafael Rezek, proprietário do receptivo Cristina Adventure Ecoturismo, oferece, além desses roteiros de ecoturismo, duas rotas de peregrinação, estruturadas à época em que ainda era secretário de Turismo, Cultura e Meio Ambiente. Os roteiros propõem uma imersão na ruralidade mineira, a contemplação das paisagens e a introspecção espiritual. Com 24 km, a Rota das Capelas inicia na igreja Matriz, no centro, e percorre capelas de quatro bairros da área rural – Nossa Senhora do Rosário (Campo do Rosário), Nossa Senhora da Glória (bairro da Glória), Nossa Senhora das Graças (Fazendinha) e Santo Expedito (Barra Mansa) –, com paradas para degustação de quitutes, além de bênçãos e histórias. O outro roteiro, Caminho da Agonia, sai de Cristina, percorrendo 57 km por Maria da Fé, Pedralva e Itajubá, finalizando no Santuário de Nossa Senhora da Agonia.
O turismo em Cristina despontou há 24 anos com a produção dos primeiros cafés especiais. De lá para cá, graças à qualidade e ao aprimoramento, o café de Cristina vem ganhando prêmios internacionais no universo dos cafés especiais. O café produzido na fazenda de Sebastião Afonso da Silva, por exemplo, foi eleito o melhor do mundo por dois anos consecutivos (2014 e 2015) no principal concurso internacional de café do mundo, o Cup of Excellence. O segredo, segundo Sebastião, é fazer a colheita tardia para manter os grãos maduros por mais tempo nos galhos. Atitude, clima, solo e manejo também fazem a diferença. O Cristina Aventure ainda oferece roteiros de vinho na Mantiqueira e azeite em Maria da Fé.
Em fazendas locais, como a Transwal, Santo Antônio, Cristina e da Pedra, o visitante pode conhecer os diferentes métodos de extração dos grãos de cafés cultivados entre 950 m e 1.500 m de altitude, acompanhar o processo de colheita (vindima), que acontece de janeiro a março, e secagem do produto, participar de degustações e combinar a visita com uma experiência gastronômica em restaurantes como a Casa Grappolo, na Fazenda Fio de Ouro. Desde 2020, o modo de fazer do café especial é patrimônio imaterial municipal. O café é um produto tão importante para a economia local que originou um dos eventos tradicionais do calendário da cidade, o Festival Café com Música.
Também patrimônio imaterial do município, o Café com Música completa 15 anos em 2024. Segundo Rafael Rezek, o evento nasceu para unir duas identidades do município, as bandas de música e os cafés especiais. Durante uma semana, na semana do feriado de Corpus Christi, o evento conta com shows, seresta, orquestra Café com Música, exposição de artesanato, oficinas gastronômicas com pratos à base de café, com baristas e música, cervejas artesanais, provas de café e praça com comidas típicas, atraindo cerca de 30 mil pessoas. Neste ano, a programação de 15 anos ainda está sendo construída – uma das grandes atrações confirmadas é o cantor e violeiro Almir Sater.
O Circuito Caminhos da Mantiqueira é formado por 16 municípios, com distância um do outro entre 12 km e 80 km e características em comum como gastronomia, artesanato e ecoturismo, informa Jailton Prado, presidente da IGR Caminhos da Mantiqueira. Os roteiros de experiência, segundo ele, são construídos sob o tripé café, vinho e azeite. Nessa região de extrema beleza cênica, um dos produtos turísticos oferecidos é o cicloturismo.
A Rota Caminhos da Mantiqueira foi criada a partir de novembro de 2018, e as trilhas já foram mapeadas e sinalizadas e passam por estradas da área rural e pouco asfalto: em totens instalados nas praças centrais das 16 cidades, o ciclista acessa um QR Code, que pode ser baixado no celular, contendo o descritivo das trilhas do circuito e os dados sobre cada município. O próximo passo, informa o gestor, é a criação do guia de turismo físico e digital.
Segundo Jailton Prado, o turista que circula pela Mantiqueira normalmente visita mais de uma cidade e consegue participar de diversas atividades por conta da proximidade. Nos últimos cinco anos, principalmente no pós-pandemia, o turismo de experiência tem se consolidado. “A própria população local tem redescoberto a região. Há ainda o turismo regional, que atrai os visitantes do Vale do Paraíba e do interior de São Paulo”, enfatiza.
Serviço:
Como chegar:
A partir de BH: 460 km. Pegue a BR-381 (Fernão Dias) até Campanha, depois a estrada no Lambari
A partir de SP: 290 km. Pegue a BR-381 (Fernão Dias) até Pouso Alegre e depois a estrada para Santa Rita do Sapucaí]
A partir do RJ: 320 km. Pegue a Via Dutra até Engenheiro Passos, Itamonte e São Lourenço
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