Desencontros no café da Colômbia e o acordo para o setor
Leia, na sequência, artigo de autoria de Luis Felipe Gómez Restrepo, professor na Universidad Javeriana Cali, na Colômbia.
O desacordo e o aborrecimento do presidente Petro com a Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia por não ter nomeado seu candidato como diretor executivo poderão custar caro ao país e ao setor. O apelo que o governo fez à “base” cafeeira foi de grande conteúdo simbólico e político, utilizando o poder do governo e do seu orçamento, congregaram associações, cooperativas e pequenos cafeicultores. Lá, a ministra da Agricultura fez bem o seu trabalho e conseguiu a aceitação do “Grande Acordo do Café para mais 100 anos de cafeicultura”.
Os pontos do acordo são: Associação Café Solidário; Fortalecimento social da cafeicultura; Ativação do Fundo de Estabilização de Preços; Reforma Agrária do Café; Produção Sustentável de Café e Serviços Ambientais; Transformação produtiva rumo a uma agroindústria inovadora e sustentável; Democratização do crédito para a transformação da cafeicultura; Fortalecer o processo de marketing; Extensão agrícola diferenciada; Viveiros e produção de sementes; Promover a gestão de riscos através da associatividade; Turismo Cafeeiro e Utilização de incentivos propostos no âmbito do Pacto Verde. Esse é o pacto que acordaram para o futuro, pelo menos para o mandato de Petro.
O documento tem um grande sentido de realidade e, salvo algumas expressões discutíveis, poderíamos dizer que é um pacto interessante com ênfase explícita nos pequenos produtores. E esse é o grande valor: o foco nos mais fracos, nos pequenos produtores, é muito importante e ecoa uma das críticas recorrentes que têm sido feitas à Federação, que teria faltado um esforço maior para com os pequenos cafeicultores. Em muitas ocasiões, a distribuição de subsídios aos cafeicultores foi questionada, uma vez que não havia uma diferença clara entre grandes e pequenos produtores.
Mas a estratégia do governo de dividir a união pode tornar-se tóxica para o bem comum. Por que? Pois bem, quebra a unidade e sofre com o desconhecimento da institucionalidade cafeeira, construída há mais de 100 anos. Tornou-se mais técnico, internacionalizado, profissionalizado e focado, ganhando também transparência e democracia interna. Estamos falando de instituições como: Cenicafé, que parece estar sendo substituído por creches; a planta de Café Liofilizado para sabe-se lá que ideia inovadora do agronegócio; Juan Valdez, por outro lado, uma nova ideia para cafés especiais; e a própria Federação, que tem um histórico jurídico e sindical com muitos acumulados, quer mudar para uma nova associação de associações.
Alguns consideram que chegou a hora de eliminar o setor com um novo segmento, mas essa estratégia de choque não é a forma mais viável ou eficiente de o fazer. Podemos estar perdendo uma grande oportunidade de focar nos pequenos produtores, o que, se realizado com todo o arcabouço da Federação, com nova ênfase em sua missão, poderá ter um grande impacto na cafeicultura em geral e nas famílias cafeicultoras mais pobres.
A Federação, que tome um cafezinho com o presidente.