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Inverno de 2024 no Brasil: a estação pode ser mais quente que o normal!


Por Paola Bueno

O outono no Brasil tem sido bem anômalo em relação ao padrão climatológico esperado para a estação. As chuvas têm se concentrado nos extremos do país, como em partes da região Sul, Nordeste e Norte, regiões que de fato costumam receber mais chuvas neste período, mas essas chuvas tem superado os volumes esperados, principalmente agora na região Sul, como temos noticiado.

Enquanto isso, grande parte do Brasil central experimenta um período extremamente seco, com nenhuma chuva significativa e baixos valores de umidade relativa. Resultado do estabelecimento de um bloqueio atmosférico que, além de impedir a formação de chuvas, tem elevado substancialmente as temperaturas, configurando uma onda de calor muito atípica para essa época do ano. Isso nos faz pensar: será que o inverno seguirá essa tendência ou podemos esperar um padrão de frio mais rigoroso?

Quais padrões oceânicos poderão influenciar o inverno?

Conforme já mencionamos em artigo anterior, estamos passando por um período de transição do El Niño-Oscilação Sul (ENOS), com o El Niño em seu estágio final e os modelos indicando o surgimento da La Niña durante o inverno e início da primavera.  Enquanto a La Niña se desenvolve em passos bem lentos, a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico irá se configurar durante o inverno, podendo influenciar o clima brasileiro durante essa estação!

De fato vamos começar a observar o surgimento das anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) associadas a La Niña sobre o Pacifico Tropical ao longo do trimestre de inverno, porém, o fenômeno deverá estar de fato estabelecido entre o final do inverno e início da primavera, pois o acoplamento oceano-atmosfera poderá demorar a ocorrer. Dessa forma, não esperamos grandes efeitos da La Niña sobre o Brasil durante o inverno.

Deixando de olhar o Pacifico e voltando os olhos para o Índico, um padrão oceânico bem conhecido já tem tomado forma por lá e deve se formar antes da La Niña: a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico (DOI)! Os últimos campos observados de anomalia de TSM da porção tropical do Índico já mostram uma diferença de TSMs entre a porção leste e oeste da bacia.

As previsões indicam que a partir de maio essa diferença de anomalias de TSM no Índico irá aumentar, configurando o dipolo positivo que deverá ganhar força ao longo do inverno. A configuração desse dipolo, apesar de muito distante do Brasil, pode gerar padrões ondulatórios anômalos que modulam os padrões de cavados e cristas sobre o Brasil, consequentemente alterando a intensidade e posicionamento dos sistemas de baixas e altas pressões.

O que esperar das chuvas durante o inverno no Brasil?

Como sabemos, o inverno é o período mais seco do ano para grande parte do Brasil, porém, esse inverno poderá ser mais seco do que o normal! Os modelos têm apontado uma tendência de anomalias negativas de chuva principalmente sobre o Centro-Sul do Brasil, como em partes do Centro-Oeste e Sudeste, além da porção norte e oeste da região Sul.

Um dos possíveis culpados para esse déficit de chuvas pode ser a fase positiva do DOI, que costuma favorecer o estabelecimento de bloqueios atmosféricos sobre o Centro-Sul. Muitas vezes esse tipo de bloqueio, muito similar a configuração que predomina atualmente, favorece a convergência de umidade sobre o extremo sul do Brasil, além de restringir a ação dos sistemas frontais, fazendo com que partes do Sul, como o estado do Rio Grande do Sul, recebam grandes volumes de chuvas em poucos dias.

Portanto, mesmo que não exista um sinal muito intenso de anomalias positivas de precipitação nas previsões do modelo - com um sinal um pouco mais evidente na costa da região Sul no mês de junho - existe a possibilidade de ocorrência de eventos extremos de chuva na região Sul em determinados períodos do inverno.

Chuvas mais volumosas que o normal também podem ocorrer no extremo Norte do Brasil, ainda devido a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) impulsionada pelas águas mais quentes que o normal do Atlântico tropical. Em algumas áreas do litoral leste do Nordeste também podemos esperar chuvas acima do normal, mas essas anomalias serão menos intensas e abrangentes.

E o que esperar das temperaturas?

Como mencionado, não esperamos a influência da La Niña no inverno de 2024, que poderia favorecer a entrada e atuação de massas de ar polar que derrubariam as temperaturas, fazendo o próximo inverno ser mais “rigoroso”. Entretanto, olhando os mapas de previsão dos meses de junho, julho e agosto, vemos um cenário muito oposto, com anomalias positivas de temperatura sendo previstas para grande parte do Brasil!

As temperaturas deverão ficar acima do normal principalmente no Centro-Sul do Brasil, o que também pode estar associado a maior ocorrência de bloqueios atmosféricos devido a atuação da fase positiva do DOI. Porém, isso não quer dizer que teremos um inverno com vários dias seguidos de muito calor e temperaturas excepcionalmente altas. Os períodos mais quentes podem ser intercalados por dias mais frios, com a atuação de massas de ar frio. Mas de qualquer forma, a tendência é que teremos um inverno com temperaturas médias acima do normal.

Fonte: Tempo.com

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