Dados que não se encaixam sobre Vietnã e a interrupção das altas para o café
Agnocafé
Longe de querer especular sobre a lisura e acerca dos aspectos técnicos adotados pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), mas a sua mais recente estimativa de safra para o Vietnã caiu como uma luva para os players que já se mostravam totalmente desesperados com mais uma onda de ganhos consistentes em mercados de robusta e arábica em Londres e Nova Iorque, respectivamente.
Os dados apresentados pelo órgão governamental norte-americano foram preponderantes para conter um avanço ainda mais significativo das cotações, que vinham refletindo diretamente a questão da disponibilidade do café no mercado internacional, devido, principalmente, à oferta menos incisiva do Vietnã.
O relatório apresentado pelo Usda, além de ter servido devidamente para atuar com um extintor diante de um incêndio aparente, também trouxe um arcabouço de informações pouco consistente.
Várias dados se misturam e várias deles simplesmente não conseguem se conectar. Moradores do Vietnã, vídeos, fotos e boletins meteorológicos não deixam mentir que as zonas cafeeiras do país sofreram com o clima, ante uma estiagem que se mostrou prolongada, afetando, inclusive, a disponibilidade de água para as lavouras irrigadas. Essa seca veio acompanhada de temperaturas bastante altas e, diante disso, um consenso foi sendo formado entre profissionais da agronomia, técnicos, produtores e tradings de que um reflexo se daria na produção do grão do país.
Para o Usda, no entanto, isso não ocorreu. Segundo o órgão governamental norte-americano, os preços mais consistentes do café no mercado internacional teria ajudado o Vietnã a contornar os problemas climáticos e manter alguns níveis conhecidos de produção, principalmente com o uso da irrigação.
Essa afirmação do relatório do Departamento não parece ter maiores sustentações. Afinal, relatos diversos apontaram que o país sofreu com uma estiagem das mais severas e a disponibilidade de água se mostrou curta, afetando tanto lavouras naturais como as que utilizam sistemas de irrigação. Portanto, sustentar um nível de produção de café na ordem de 29 milhões de sacas para a temporada somente por processos que teriam sido efetivados diante de cotações mais altas parece ser um exercício de retórica dos mais elaborados.
O Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural do Vietnã trabalha com a perspectiva de uma safra do país no nível de 24,5 milhões de sacas. Já a tradicional empresa exportadora Volcafé trabalha com a perspectiva de uma produção de 24 milhões de sacas. Já a Vicofa (Associação de Café e Cacau do Vietnã) opera com números de safra da ordem de 21 a 22 milhões de sacas. Os três levantamentos mostram que os montantes se mostram reprimidos diante de problemas climáticos enfrentados pelo país ao longo dos últimos meses.
Ou seja, são dados que apenas corroboram as incongruências do oportuno (para aqueles que vinham suando frio diante de um avanço relevante das cotações dos robustas) relatório apresentado pelo Departamento. Tal documento reconhece que outras culturas, como a do durião e do maracujá, vão ganhando espaço entre os produtores que, até há pouco, se concentravam na produção do café.
Diferentemente do propalado por tradings, por reportagens e pelo relato de técnicos, o Departamento de Agricultura avalia que o Vietnã não teve diminuição de área para o plantio de café novamente devido ao aumento de preços.
O mercado tende a buscar, a partir das próximas semanas, o volume tão expressivo de 29 milhões de sacas produzidas pelo Vietnã. É possível que esse montante tão grande não consiga ser reunido e um reflexo deverá novamente ser observado nos terminais cafeeiros.
A estimativa que caiu como uma luva para que os avanços de preço fossem contidos poderá, em breve, ser contestado, ante a soberania do mercado. Mas não seria surpresa que, antes que isso ocorra, novos levantamentos sejam lançados. O Brasil pode ser o próximo alvo, com algumas dezenas de milhões de sacas podendo ser adicionadas para o seu potencial produtivo, afinal, o país também viveu recentemente dias de preços consistentes para o grão.