Mercado: 81% dos grandes investidores apostam na alta e 19% na baixa
Por José Roberto Marques da Costa
Os contratos de café em NY e Londres fecharam em forte queda nesta sexta-feira (7), o arábica cai 4% e o robusta 3,4%, após o relatório de empregos dos Estados Unidos, o “payroll”, mostrar um volume de contratações bem acima do esperado no mês de maio, o que afastou a narrativa de enfraquecimento da economia americana e puxou os rendimentos para cima sob a expectativa de que a política monetária do Federal Reserve (Fed) siga restritiva por mais tempo.
Em menos de 24 horas, o bom humor dos investidores que apostam em ativos de risco, como o café deu uma reviravolta. Se na quinta-feira, a redução dos juros anunciada pelo Banco Central Europeu (BCE) animou os investidores levando julho em NY a máxima de 239,80 cents, maior nível dos últimos 48 dias. Nesta sexta-feira, depois do relatório da “payroll” inverteu esse cenário, tornando difícil para o Fed reduzir as taxas de juros em breve, levando a mínima de 223,60 cents, desvalorização de 16,20 cents e menos de 24 horas.
Segundo o relatório divulgado nesta manhã, 272 mil empregos foram criados no país no mês, número bem acima do previsto e que representa uma forte reaceleração em relação às 165 mil contratações de abril. A renda salarial média, por sua vez, subiu 0,4% na comparação mensal e puxou a taxa anual para 4,1%, 0,2 ponto percentual a mais que o esperado. Com isso, o mercado reavaliou as suas expectativas para a política monetária do Fed e, agora, precifica chance majoritária de apenas um corte de 0,25 ponto neste ano, contra dois previstos antes do payroll. Uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos tende a pressionar commodities cotadas em dólar e que não remuneram os investidores por meio de rendimentos, como café em NY e Londres.
Com fortissímo volume negócios de 114.975 lotes em NY, 31 mil lotes a mais que da quinta-feira , julho teve forte queda de 9,40 cents fechando a 224,80 cents, variando de 223,60 cents a 234,20 cents, rompendo dois suportes do dia em 229,,87 cents e 226,38 cents, na semana acumula alta de 2,45 cents, variando 18,90 cents, de 220,90 cents a 239,80 cents. Os cinco pregões desta semana foram fortemente voláteis, atingindo a média de 9,53 cents, a volatilidade na segunda-feira foi de 8,40 cents, terça-feira de 10,65 cents, quarta-feira 10,00 cents, na quinta-feira 8,00 cents e na sexta-feira de 10,60 cents.
Os contratos de julho tentaram romper o importante patamar técnico de 240,00 cents na quinta-feira, nível não atingido nos últimos 50 dias, com Londres oprando acima de US$ 4.500 a tonelada, mas encontraram forte resistência dos comerciais acima de 239,00 cents atingindo a máxima da semana de 239,80 cents fechando abaixo de 235,00 cents. No pregão desta sexta-feira até a publicação do relatório oficial de empregos dos Estados Unidos, o “payroll”, julho operava acima do nível de 230,00 cents. Após o relatório, os investidores reavaliaram as suas expectativas para a política monetária do Fed mais restritiva levando os investidores a migra, pressionando todas as commodities cotadas em dólar e que não remuneram os investidores por meio de rendimentos.
Segundo Antônio Pancieri Neto, da Clonal Corretora de Café, o relatório de emprego dos EUA acima do esperado desestimulou os investidores a apostarem em commodities mais arriscadas, como o café. Além disso, o mercado estava sobrecomprado e esses dados econômicos são um gatilho a mais para um recuo na bolsa. Mas o pessimismo dos compradores é pontual já que os fundamentos de oferta e demanda podem voltar a impulsionar os preços. Podemos ver algum momento de realização, mas as cotações devem continuar subindo com muita volatilidade, já que temos problemas sérios de produção em algumas origem, enquanto a demanda se mostra firme" acrecentou ele.
O relatório da CFTC referente a 04 de junho mostra alta nas posições compradas ( 2.168 lotes) e queda nas posições vendidas ( 588 lotes) dos grandes fundos, neste período a variação de maio passou de 230,95 cents a 233,90 cents, alta de 2,95 cents. Os dados mostraram alta de 6,3% ( 2.756 lotes) nas posições líquidas compradas dos grandes fundos. As posições abertas tiveram teve forte alta de 18 mil lotes, passando 291.033 lotes para 309.778 lotes devido venciemento das opções na próxima semana.
Segundo os números apresentados, levando-se em consideração apenas as posições futuras os grandes fundos possuíam 46.543 posições líquidas compradas, sendo 60.468 posições compradas e 13.925 posições vendidas no último dia 04. No relatório anterior, referente a 28 de maio, eles tinham 43.787 posições líquidas compradas sendo 58.300 posições compradas e 14.513 posições vendidas. As empresas comerciais aumentaram suas posições líquidas vendidas, para um saldo de 99.265 posições líquidas vendidas, sendo 67.969 posições compradas e 167.234 vendidas). Resumindo, cerca de 81% dos grandes investidores apostam na alta e 19% na baixa
No curto e médio prazo, além da tendência da bolsa de NY indicando a busca dos maiores níveis desde ano em 243,70 cents, ( 18/04 ) e podendo estender os ganhos para níveis acima de 252,00 cents, maiores níveis de 2022, o foco do mercado vai estar atento em mais dois fundamentos. Primeiro no clima extremo no Vietnã e continuação da estiagem nas regiões de café com a ONS estimando que as chuva em junho devem ficar em 54% da média histórica no Brasil. Segundo na valorização do dólar, que além do efeito “payroll”, a aposta de investidor estrangeiro contra o real batendo recorde, nexta sexta-feira, dólar fechou a R$ 5,3240, maior nível desde janeiro de 2023 com vários ecomonista analizando a possibilidade de buscar a R$ 5,50.
A posição comprada em dólar contra o real via derivativos pelo investidor estrangeiro bateu máxima histórica na quarta-feira, ao atingir US$ 73,5 bilhões, segundo dados divulgados pela B3. A posição é vista como uma aposta contra a valorização do real, ainda que essa leitura não seja totalmente precisa. Isso porque os dados também englobam investimentos em “offshores”, que podem ser feitos por investidores locais, além de parte desse montante ser referente a estratégias de “hedge” (proteção) e não necessariamente uma aposta direcional no desempenho da moeda brasileira.
Apesar da forte queda de hoje, a preocupação do mercado está na queda no rendimento dos grãos da safra brasileira devido ao forte déficit hídrico ao longo de 2023, provocando uma diminuição substancial no enchimento. Produtores de diversas regiões têm relatado essa queda, com peneiras baixíssimas de café e um grande índice de grãos miúdos. A combinação desses fatores fisiológicos resulta em grãos de menor peneira, contudo inicialmente sem perda na qualidade, aumentando a quantidade de grãos de café necessária para atingir uma saca café beneficiada. Este cenário não só afeta a produção e a renda dos cafeicultores, mas também tem implicações na disponibilidade e até nos preços do café no mercado internacional.
Os cafeeiros do Vietnã atrofiados pela seca, calor e pragas
O volume em Londres atingiu 17.664 lotes, 4,6 mil a menos do que ontem, julho teve queda de US$ 150 a tonelada fechando a US$ 4.275/t, variando de US$ 4.228/t a US$ 4.435/t, rompendo o primeiro suporte do dia em US$ 4.237/t. Segundo o analista do Vietnã Kinh Vu, o mercado de Londres provavelmente ainda tem espaço para subir, uma vez que ultrapassou fortemente o pico de 25 de abril. Todos os indicadores técnicos no gráfico diário do mercado de Londres mostram bons sinais positivos.
Os contratos futuros do café robusta na ICE fecharam em baixa na sexta-feira, depois de atingirem um recorde na sessão anterior devido às preocupações persistentes com a escassez de oferta. A oferta de café robusta permanece escassa, principalmente devido a preocupações com as colheitas no principal produtor, o Vietname, embora os stocks certificados pela ICE estejam a aumentar, provavelmente indicando uma produção crescente fora do Vietname.
Os comerciantes no Vietname afirmaram que estimam que a colheita da próxima época será 4% a 7% inferior devido aos danos causados pela seca em março e abril. Associação de Café e Cacau do Vietname (Vicofa) estima uma maior queda que deve chegar entre 15% a 20%
Os negociantes disseram que a oferta de café robusta permaneceu muito restrita, em parte devido a preocupações com a colheita do Vietnã, enquanto a demanda também permanece forte. “O aperto nos robustas ocorreu porque a produção não foi capaz de responder a uma grande expansão na demanda pós-Covid”, disse a trader e empresa de serviços da cadeia de suprimentos Czarnikow em nota.
Segundo dados da Associação Vietnamita de Café e Cacau ( VICOFA ), em maio, as empresas exportaram 71.569 toneladas ( 1,193 milhões de sacas ) de café verde robusta, com preço unitário de 3.920 USD/ton e 6.831 toneladas ( 113.845 sacas ) de café arábica, com preço unitário de 3.888 USD/ton. Assim, o preço de exportação do café arábica é até 32 USD/tonelada inferior ao do robusta.
Phan Minh Thong, Diretor Geral da Phuc Sinh Joint Stock Company (7 maiores exportadores de café verde para a safra 2022-2023), disse que isso não tem precedentes nos mais de 50 anos de história da indústria cafeeira mundial. " Na verdade, o preço do café robusta ultrapassou o do café arábica durante algum tempo, mas só agora está sendo registrado em relatórios estatísticos porque nos últimos tempos as empresas atribuíram contratos antigos a preços antigos " - explicou o Sr. Thong.
A seca, as ondas de calor e uma praga que prospera em condições quentes e secas atrofiaram o crescimento dos cafeeiros do Vietname, disse um importante especialista no dia 5 de junho, diminuindo a oferta dos grãos utilizados no café instantâneo. A colheita de café da safra 2024/2025, cuja colheita começa em outubro, deverá ser 15% a 20% inferior ao normal, disse à AFP o presidente da Associação de Café e Cacau do Vietname (Vicofa), Nguyen Nam Hai. “O calor e a seca tiveram um grande impacto no desenvolvimento e crescimento dos cafeeiros”, disse ele, com os agricultores sendo pressionados a encontrar fontes alternativas de água.
Em Gia Lai, uma província montanhosa nas Terras Altas Centrais, coração da região cafeeira do Vietname, as altas temperaturas e a baixa pluviosidade também permitiram que a praga cochinilla prosperasse. “O calor escaldante e a cochinilha danificam os ramos do café, encolhendo os grãos de café e afetando gravemente a sua qualidade”, disse Hai. A empresa norte-americana de pesquisa de mercado StoneX previu que a produção de café deste ano no Vietname poderá atingir apenas 1,4 milhões de toneladas ( 23.334 milhões de sacas ).
O centro e o sul do Vietname registaram semanas de temperaturas recordes e sem chuva em Março e Abril. Houve algumas chuvas nas últimas semanas, mas o Sr. Hai disse que “não foi suficiente”.
As alterações climáticas constituem uma séria preocupação para a multibilionária indústria cafeeira, com os cientistas a preverem rendimentos mais baixos e menos áreas adequadas para cultivo. O Robusta foi pensado para lidar melhor com temperaturas mais altas em comparação com seu concorrente, o Arábica. Os preços globais do café subiram rapidamente em 2024, o que significa que os agricultores vietnamitas podem ganhar um pouco mais por quilo no curto prazo.“No entanto, o montante global não é grande, pois a seca reduziu a produção”, disse Hai.
Ótimo final de semana
José Roberto Marques da Costa, diretor do site Agnocafé, líder mundial em informações do mercado cafeeiro