Clima de estiagem e temperatura alta começam a afetar a safra de 2025
Por José Roberto Marques da Costa
Os fundamentos positivos de mercado, principalmente o clima, começam a entrar novamente no radar dos grandes investidores influenciando as performance dos café arábica em NY e robusta em Londres, com a continuidade da queda dos Treasuries, que nesta semana caiu para os menores patamares desde começo de abril diante de dados de inflação e do mercado de trabalho dos Estados Unidos limitou o apetite por risco dos grandes investidores.
Os pregões de sexta-feira, os direnciais entre contratos de café arábica e robusta aumentaram de 38,74 cents para 40,59 cents, foram influenciado pelo dólar que atingiu seu maior nível em cinco semanas na comparação com uma cesta de moedas, em meio a declarações de membros do Federal Reserve sobre como ainda está distante a queda de juros no país, apesar dos dados melhores de inflação. Esse comportamento da moeda americana eleva a rentabilidade de exportadores de commodities em todo o mundo, de forma que a oferta aumenta e faz cair o preço de todos as commodities agrícolas.
Com o menor volume negócios de 43.503 lotes da semana em NY, julho teve queda de 1,90 cents, fechando a 224,15 cents, variando de 222,95 cents a 227,35 cents. O setembro fecha com queda de 1,58 cents a 224,40 cents, variando de 222,65 cents a 227,35 cents, rompendo o primeiro suporte em 223,75 cents, não tendo força técnica para ultrapassar a primeira resistência em 229,15 cents.
Graficamente, setembro operou todo o pregão dentro performance considerada neutra, abaixo de 222,40 cents poderia entrar em canal de baixa e acima de 227,55 cents para dentro de canal de alta. Os estoques de certificados aumentaram 6.964 sacas para 815.031 sacas e 50.264 sacas esperando certificação. Durante a semana acunula alta de 30.260 sacas e praticamente metade deste estoques são cafés brasileiros.
Os futuros do café arábica têm flutuado entre 220 cents a 235 cents nas últimas semanas devido às contínuas preocupações com a oferta que aumentam a volatilidade do mercado. A persistente seca no Vietname intensificou estas preocupações. Além disso, as chuvas abaixo da média no Brasil, o principal fornecedor de café arábica, e o aumento da procura especulativa após uma crise no mercado do cacau contribuíram ainda mais para a volatilidade.
O relatório da CFTC divulgado na sexta-feira referente a 11 de junho mostra queda nas posições compradas ( 550 lotes) e alta nas posições vendidas (1.054 lotes) dos grandes fundos, neste período a variação de maio passou de 233,90 cents a 220,35 cents, queda de 13,55 cents. Os dados da CFTC (Commodity Futures Trading Commission) mostraram queda de 4,5% ( 2.104 lotes) nas posições líquidas compradas dos grandes fundos. As posições abertas tiveram teve queda, passando 309.778 lotes para 305.102 lotes.
Segundo os números apresentados, levando-se em consideração apenas as posições futuras os grandes fundos possuíam 44.439 posições líquidas compradas, sendo 59.918 posições compradas e 14.979 posições vendidas no último dia 11. No relatório anterior, referente a 04 de junho, eles tinham 46.543 posições líquidas compradas sendo 60.468 posições compradas e 13.925 posições vendidas. As empresas comerciais aumentaram suas posições líquidas diminuíram, registravam no dia 11 um saldo de 95.846 posições líquidas vendidas ( 74.519 posições compradas e 170.305 vendidas). No relatório anterior do dia 04, possuíam 99.265 posições líquidas vendidas ( 67.969 posições compradas e 167.234 vendidas). No resumo 80% dos grandes investidores apostam em alta e 20% na biaxa
O relatório divulgado pelo Rabobank nesta semana informa que a colheita brasileira de café segue firme nas regiões de robusta e conilon e vem ganhando tração nas regiões de arábica, em maio, as chuvas ficaram abaixo da média nas regiões produtoras de café, o que favoreceu as atividades de colheita. Em documento aponta para aumento nas exportações de café em maio, com 4,4 milhões de sacas, elevação de 79,6% na base anual e de 3,2% na mensal.
Mais uma vez, vale destacar o ótimo desempenho das exportações brasileiras de conilon/robusta que avalia que os resultados podem ser atribuídos à excelente colheita no ano passado. Até o momento, em junho, os preços continuaram a subir, com um aumento de 13% e 21% para o arábica e conilon, respectivamente, em relação ao mês passado que indica volatilidade no mercado apesar do início da colheita no Brasil e de projeções elevação da produção americana, devido aos receios com a oferta de café do Vietnã e aumento da participação dos fundos não comerciais no mercado da commodity.
De acordo com a analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, Ana Carolina Alves, muitos produtores têm relatado problemas de rendimento e precisando de mais grãos para fechar uma saca. Obviamente que isso são números iniciais, o grosso da colheita é agora em junho e julho. A expectativa é que a safra de 2024 tenha uma melhora nessa colheita que está por vir, mas os números iniciais mostram, sim, uma preocupação. Não vamos encontrar grãos graúdos e com qualidade.
Além das questões climáticas que impactam a produção no Brasil, Ana Carolina também citou quebras na produção em grandes produtores de café como a Indonésia e Vietnã. Também impactados pelo El Niño, os dois países chegaram a ter perdas de 40% na colheita. “O Brasil acaba tendo que suprir essa brecha no mercado mundial, abastecendo os mercados em que outros países não conseguiram arcar com os compromissos firmados”, complementou.
A previsão da agência meteorológica do governo dos EUA informou na quinta-feira que há 65% de chance de ocorrência de condições climáticas extremas do tipo La Niña, caracterizadas por temperaturas frias no Oceano Pacífico, que se desenvolvam de 7 de maio a setembro. Espera-se que a mudança da atual fase neutra entre os padrões climáticos La Nina e El Nino continue no inverno do hemisfério norte de 2024-2025, com 85% de chance de ocorrer entre novembro e janeiro, segundo o Centro de Previsão Climática do Serviço Meteorológico Nacional (CPC). O ciclo entre El Nino, La Nina e a fase neutra dura normalmente de dois a sete anos e pode causar incêndios florestais, tempestades tropicais, inundações e secas prolongadas, afetando agricultores em todo o mundo.
Em plena colheita de café, os produtores brasileiros estão precupados com a próxima de 2025 devido a continuidade de padrão de bloqueio atmosférico que está atuando a vários meses tempo seco, estiagem e as altas temperaturas nas regiões de café, com temperaturas máximas têm atingido valores típicos de verão, acima dos 30°C. O clima de estiagem e temperatura acima da média começam a afetar a safra de 2025
O período de estiagem, que se estende até outubro, promete ser mais seco do que a média histórica, segundo previsões recentes da empresa de meteorologia Tempo OK. O CEO da Tempo OK, João Hackerott, explica que existe uma grande probabilidade de que o fenômeno La Niña, cuja principal característica é prolongar os períodos secos do ano, se manifeste no início da primavera, apesar de ainda ser bastante incerto com relação à intensidade e à evolução do fenômeno.
Segundo o analista de mercado do Vietnã Kinh Vu, o menor desempenho das exportações do Vietnã em maio reflete o aperto das condições do mercado interno no país, uma vez que os vendedores estão cautelosos antes da próxima colheita, pois acreditam que a colheita deste ano (2024/2025) sofrerá um sério declínio. As condições climáticas no Vietnã continuam a ser monitoradas devido às chuvas abaixo da média durante o mês de maio
O Fed manteve as taxas de juros inalteradas na quarta-feira, isto não foi surpreendente, mas o que é surpreendente é que a Fed está mais dura com apenas um corte nas taxas de juro este ano, porque se espera que a inflação tende a ser mais elevada do que o anteriormente esperado. A posição da Fed foi evento mais importante desta semana que pode afetar a direção futura dos preços das commodities. O Banco Central Europeu e o Banco do Canadá são os primeiros grandes bancos a cortar as taxas de juro este ano, uma vez que a inflação caiu para níveis administráveis, esperando-se agora que outros bancos sigam o exemplo.
Embora se possa argumentar que este corte nas taxas levará algum tempo para refletir os gastos do consumidor. Isto ocorre num momento em que os mercados de café maduros na Europa, Japão, Canadá e Estados Unidos estão a entrar num período de atividade de torrefação mais lenta devido aos meses de verão. Com uma perspetiva econômica global mais positiva, prevê-se que o consumo de café cresça de 2% a 3% durante a colheita do outono de 2024/2025. Muitos analistas independentes esperam que o aumento geral no consumo global de café cresça em média cerca de 0,95% em relação ao ano anterior.
Este crescimento é impulsionado principalmente por mercados consumidores relativamente novos e por países produtores como a China, a Índia, a Indonésia, o Médio Oriente e o Vietname, que registaram um forte aumento no consumo interno de café. Trecho de uma notícia da Bloomberg – Quando olhamos para o mercado cafeeiro há 20 anos, muitas pessoas nem sabiam como pensar na China. Mesmo há dez anos, a China não estava entre os 15 principais países consumidores de café. No entanto, hoje a China é o sétimo maior consumidor. Porque, como sabemos, o povo chinês tem tradição de beber chá. O aumento do consumo de café, no contexto de muitos problemas climáticos na era das alterações climáticas, mostra que o equilíbrio entre o consumo e a oferta de café é cada vez mais problemático.
Segundo dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), até dia 14 de junho, os embarques brasileiros do mês totalizaram 1.223.302 sacas (média diária de 87.378 sacas), queda de 26,7%, sendo 808.777 sacas de café arábica, 339.231 sacas de café conillon e 75.294 sacas de café solúvel. Os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque de maio totalizavam 1.620.726 sacas, queda de 27,5%, sendo 1.043.865 sacas de arábica, 439.368 sacas de conillon e 137.493 sacas de solúvel. Pela projeções dos embarques diários, em julho as exportação devem atingir 3,146 milhões de sacas, queda de 28%. O destaque será novamente os embarques de conilon que podem chegar a l milhão de sacas, pelos números desta sexta-feira devem ficar entre 870 mil sacas a 970 mil sacas.
O torrefador JM Smucker disse que os preços de varejo de muitas marcas de café nos supermercados continuarão a aumentar este ano, contribuindo para o aumento da inflação dos alimentos para os consumidores. Os preços de diversas das suas marcas, incluindo Folgers, Café Bustelo e Dunkin', serão particularmente afetados, de acordo com a previsão da empresa. A empresa disse que o motivo é o aumento dos preços do café robusta, que só este ano no mercado futuro aumentou mais de 50%.
O CEO da empresa, Mark Smucker, anunciou recentemente que o aumento entrará em vigor no início de junho de 2024. Smucker disse à Bloomberg: “A indústria cafeeira ainda terá que testemunhar muitas flutuações e terá um grande impacto na situação geral da inflação”. As vendas de café da Smucker caíram 4% este ano, o que a empresa atribui aos preços futuros mais baixos do que as compras importadas e ao aumento dos custos de produção.
Comerciantes vietnamitas recorreram à Indonésia em busca de café
O volume em Londres atingiu 21.812 lotes, julho teve forte queda de US$ 106, fechando a US$ 4.115/t, variando de US$ 4.074/t a US$ 4.227/t. O setembro teve queda de US$ 84 fechando a US$ 4.009/t, variando de US$ 3.905/t a US$ 4.102/t, rompendo os três suportes do dia, em US$ 4050/t, US$ 4.007/t e US$ 3.943/t. Os gráficos técnicos em Londres, estão indicando tendência de baixa com setembro fechando abaixo do intervalo neutro entre US$ 4011/t a US$ 4051/t. Os estoques de café certificado na Bolsa de Londres aumentaram em 102.333 sacas nesta semana chegando a 928.500 sacas, com mais de 90% de café brasileiro.
As exportações de café do Vietname diminuíram continuamente nos últimos 4 meses, um sinal de que não resta muito stock interno. Ao final dos primeiros 8 meses do ano-safra 2023-2024 (outubro de 2023 a maio de 2024), o Vietname exportou quase 1,2 milhão de toneladas ( 20 milhões de sacas ) de café, o equivalente a 80% da produção da safra atual e uma redução de 7%. ao mesmo período da safra anterior.
Desde o início do ano até agora, o Vietname aumentou as exportações de todos os tipos de café. Dos quais, o Robusta é o principal tipo de café exportado, com um volume de aproximadamente 650 mil toneladas ( 10,832 milhões de sacas ) no valor de mais de 2 bilhões de dólares, um aumento de 0,4% em volume e um aumento de 58,4% em valor face ao mesmo período do ano passado. De acordo com a Associação Vietnamita de Café e Cacau (Vicofa), os preços do café estão atualmente a aumentar acentuadamente, pelo que, embora a produção de café exportada para o mundo possa diminuir, o valor do volume de negócios ainda poderá aumentar. Vicofa espera que as exportações de café em 2024 gerem cerca de 4,5 a 5 bilhões de dólares
Os preços do café no Vietnã caíram ligeiramente esta semana acompanhando os preços globais quando a colheita começou no Brasil, mas os preços na Indonésia foram inesperadamente voláteis, disseram traders na quinta-feira. Os agricultores nas terras altas centrais vendiam grãos por 120.000-121.000 dong (4,72-4,76 dólares), um pouco abaixo dos 123.500-125.000 dong da semana passada. “Os preços caíram ligeiramente com o início da colheita no Brasil, o que pode aliviar a sede por grãos agora”, disse um trader baseado no cinturão do café.
“No entanto, as fracas exportações de café do Vietname em maio impediram que os preços caíssem ainda mais.” O Vietname exportou 79.358 toneladas de café ( 1,32 milhões de sacas ) de em maio, uma diminuição de 47,8% em relação ao mês anterior, mostraram dados alfandegários. Os traders esperavam que as exportações de maio ficassem em torno de 1,58 milhão de sacas. Nos primeiros cinco meses deste ano, o Vietname exportou 817.514 toneladas ( 13,627 milhões de sacas ) , uma queda de 5,8% em relação ao ano anterior, segundo dados alfandegários. Outro trader baseado no cinturão do café disse que o mercado estava morno, com muitos optando pelo comércio de pimentas.
“Alguns comerciantes recorreram à Indonésia em busca de café, mas não muitos devido aos preços elevados e à qualidade diferente, enquanto alguns comercializam pimentas”, disse o comerciante. Os traders ofereceram 5% de robusta preta e quebrada grau 2 com um prêmio de US$ 600 a US$ 700 por tonelada em relação ao contrato de setembro. Na Indonésia, os grãos robusta de Sumatra para entregas em julho foram oferecidos com prêmio de US$ 1.050 esta semana, abaixo dos US$ 1.350 da semana passada, disse um trader. Outro trader citou um prêmio de US$ 980 no contrato de setembro, acima do prêmio de US$ 650 da semana anterior. “O fato de os preços serem muito voláteis nos surpreende”, disse o segundo trader.
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