Seca no Brasil ameaça elevar ainda mais os preços do café
Por Gabriela Sá Pessoa e Dee-ann Durbin A plantação de café de Silvio Almeida fica em uma altitude ideal em uma encosta brasileira, cujo solo rico em argila retém bem a umidade da chuva e de um reservatório próximo.
Ultimamente, porém, a água está escassa na modesta fazenda de Almeida em Caconde, uma cidade em uma das principais regiões de cultivo do estado de São Paulo. Ele não consegue fazer seu café crescer como deveria.
No Brasil, o maior produtor de café do mundo, Almeida e outros agricultores começaram a lidar com a pior seca do país em mais de sete décadas e temperaturas acima da média. Almeida esperava colher 120 sacas de grãos de café nesta temporada de colheita, mas conseguiu apenas 100.
“Dadas as condições aqui, a safra de 2025 já está afetada”, ele disse à The Associated Press, apontando para uma parte de sua plantação onde os botões de flores morreram antes de florescer. “Não direi que está condenada, porque com Deus tudo é possível. Mas com base na situação, ela já está comprometida.”
A safra brasileira que termina neste mês foi praticamente estável em relação ao ano passado, e as exportações aumentaram, mas a seca atual já está complicando o início da temporada 2025/2026, de acordo com um relatório divulgado na segunda-feira pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola de Agronegócios da Universidade de São Paulo.
Ao mesmo tempo, o Vietnã, o segundo maior produtor de café do mundo, está enfrentando calor e seca, afetando suas plantações. Potenciais escassez de oferta em ambos os países começaram a elevar os preços globais do café, de acordo com o relatório.
O mercado está monitorando de perto como os cafeeiros brasileiros suportam essas condições climáticas adversas, que podem fazer com que as flores parem de florescer, não se transformem em cerejas ou produzam grãos de qualidade inferior, disse Felippe Serigati, que coordena o programa de mestrado em agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, uma universidade em São Paulo.
“Isso pode resultar em uma colheita menor de café”, disse Serigati. “Como o mercado tende a antecipar esses movimentos, já vimos o preço do café arábica em Nova York e do robusta (café) na Europa sendo negociados em níveis mais altos.”
Os preços do café não atingiram os recordes de alta que o mundo viu no final dos anos 1970, depois que uma geada severa destruiu 70 por cento das plantas de café do Brasil. Mas eles têm subido muito nos últimos anos.
Em agosto, o Preço Indicador Composto da Organização Internacional do Café – que combina o preço de vários tipos de grãos de café verde – teve uma média de US$ 2,38 por libra, um aumento de quase 55% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Em parte, os preços estão subindo por causa da maior demanda, particularmente na Ásia. Mas o clima também está impulsionando os aumentos. Seca, geada e fogo danificaram até um quinto das áreas de cultivo de produtores de café arábica no Brasil, disse Billy Roberts, economista sênior de alimentos e bebidas do CoBank, sediado no Colorado.
“Não parece que vai melhorar muito no curto prazo. Eles precisarão de chuvas consistentes para se recuperar”, disse ele.
Incêndios florestais descontrolados e provocados pelo homem em todo o Brasil têm devastado áreas protegidas e fazendas ultimamente. Um deles atingiu Caconde na semana passada.
Almeida, que também é professor de matemática em uma escola pública local, ajudou a calcular os danos para uma associação regional. Até agora, ele estima que os incêndios afetaram 519 hectares (1.282 acres). Metade era Mata Atlântica nativa, 30% pasto e 15% plantações de café.
Nas próprias terras de Almeida, 2.000 de suas 15.000 plantas foram queimadas. Seu vizinho, João Rodrigues Martins, perdeu tudo.
Martins, 71, tinha 2.500 pés de café em um pequeno terreno, agora completamente enegrecido pela fuligem. O café que ele vende para uma cooperativa local é seu sustento e também paga o tratamento médico do filho.
Para pequenos produtores, ver anos de cultivo reduzidos a cinzas é difícil de aceitar. Na semana passada, Martins correu pelo fogo para salvar suas caixas de abelhas. Hoje, ele está encontrando forças para continuar em frente.
“A fé é um barco que nos ajuda a navegar pela vida”, disse ele.