Mercado de café entrando numa crise sem precedente na histórica
Por José Roberto Marques da Costa
Com volume de 3.778 lotes em NY, os contratos futuros de café arábica tiveram a primeira queda da semana nesta sexta-feira, o dezembro fechou em queda de 4,75 cents a 269,15 cents, devolvendo a alta de quinta-feira, variando de 264,60 cents a 273,15 cents, rompendo dois suportes do dia em 269,55 cents e 265,20 cents. Na semana variou 24,95 cents de 250,10 cents a 275,05 cents, maior nível desde julho de 2011, acumulando alta de 18,40 cents ( + 7,3% ) e no mês de setembro acumula alta de 25,10 cents ( 12,8% )
O volume em Londres atingiu 12.864 lotes, novembro fechou em queda de US$ 45 a tonelada a US$ 5.482/t, variando de US$ 5.367/t a US$ 5.517/t, rompendo o primeiro suporte do dia em US$ 5.438, não tendo força de buscar a segundo em US$ 5.348/t, na semana variou US$ 379 a tonelada, de US$ 5.196/t a US$ 5.575/t, recorde histórico, acumulando alta de US$ 423 ( + 8,4% ) na semana. No mês de setembro, já acumula alta de US$ 534 ( 10,8% ).
O relatório da CFTC referente a 24 de setembro mostram que os grandes fundos diminuíram suas posições compradas ( - 1.979 lotes ) e diminuíram levemente suas posições vendidas ( - 18 lotes) , neste período a variação de dezembro passou de 264,50 cents a 267,85 cents, alta de 13,35 cents. Os dados mostraram queda de 4,5% nas posições líquidas compradas dos grandes fundos que possuíam 41.649 posições líquidas compradas, sendo 54.518 posições compradas e 12.869 posições vendidas no último, cerca de 80,90% continuam apostando na alta e 19,10% na baixa
Com o Brasil enfrentando sua sete onda de calor nesta semana e a oitava na próxima provocando forte estiagem e déficit hídrico recorde em várias regiões de café, deixando as lavouras em estado lamentável. As chuvas do último fim de semana em algumas regiões foram suficientes para estimular a primeira florada da safra, mas serão necessárias precipitações posteriores para ajudar a fixar as flores. " O café tem problemas maiores do que o açúcar, pois esta é a época de floração e ainda não houve chuvas adequadas", disse Alberto Peixoto, diretor da consultoria AP Commodities. É aí que as coisas começam a ficar mais complicadas com a continuidade da estiagem por mais 15 dias, sendo uma grande preocupação do mercado, reduzindo o potencial para a safra do próximo ano. Devido ao estado lamentável, os produtores estão ampliando as podas e esquletamento dos cafezais mais velhos, representa milhares de alqueires que deve contribuir ainda mais para a quebra da safra do próximo ano em vários milhões de sacas de café.
Para o meteorologista Willians Bini, por enquanto, as chuvas ainda não se estabeleceram mesmo com a chegada da primavera no Hemisfério Sul. Historicamente, o período úmido começa ao longo do mês de outubro, porém fatores climáticos, como o El Niño e La Niña, interferem nesse padrão. “Muitas vezes começa já durante setembro, e outras vezes apenas em novembro. Para 2024, os modelos analisados pelo especialista indicam que a mudança vai acontecer de fato ao longo de outubro.
Ou seja, a partir da segunda quinzena, as chuvas começarão a ser um pouco mais volumosas, até lá o clima permanecerá seco com nova onda de calor nos próximos 15 dias nas principais áreas de café, o que estressará ainda mais as árvores. As regiões de café estão vivendo o pior deficit hídrico dos últimos 40 anos com chuvas consistentemente abaixo da média desde abril, danificando os cafeeiros durante o importantíssimo estágio de floração, e reduzindo as perspectivas para a safra de café em 2025/26. Nesta sexta-feira, o déficit hídrico médio em 16 localiddes das estações da Cooxupé. no Sul de Minase no Cerrado Mineiro atingiu 285 mm.
Segundo Amanda Souza, apesar da repentina queda de temperatura esperada em partes do Sul e do Sudeste neste finalzinho de setembro devido ao avanço de uma frente fria, outubro já vai começar com temperaturas elevadas e com um calor acima do normal. O calorão com temperaturas próximas aos 40°C em diversas cidades das duas regiões é consequência de uma intensa onda de calor que deve perdurar por dias consecutivos ainda. A intensa onda de calor vai abrir o mês de outubro com temperaturas bem acima do normal no centro-sul do Brasil. Desde cidades do Rio Grande do Sul até cidades de Minas Gerais podem registrar desvios de 3°C a 10°C acima da média.
Analistas da LSEG afirmam que, embora alguns modelos meteorológicos prevejam que as chuvas finalmente chegarão ao Brasil, elas provavelmente só se concretizarão em meados ou no final de outubro, se é que ocorrerão. “De modo geral, a previsão para o Brasil parece amplamente negativa para outubro, com uma pitada de alívio no final do mês”, disseram eles.
Com a estimativa de chuvas do ONS de que em outubro a região Sudeste deve ter 43% da média no histórica, o mercado de café está entrando numa crise sem precedente na histórica, e o nível 300 cents, tão mencionado por vários analistas, começa a tornar realidade no curto prazo. As péssimas informações meteorológicas está deixando o mrercado extressado e a preocupação está aumentando diariamente em todos os setores. O produtor, vendo os estado laméntel das lavouras vai ter queda de produção pelo quarto ano consecutivo, os compradores terão que desemboçar mas "grana" para cobir as margens. Nos últimos 10 meses, quando a bolsa de NY estava sendo negociada a 170 cents, os comerciais enviaram cerca de US$ 9,20 bilhões para cobrir as chamadas de margem e tudo indica que deverão desembolsar mais de 2 bilhões quando chegar a 300,00 cents. Este clima traz um intraguilidade ao mercado, reduzindo a liquidez e alimentanado os boatos de onda de "recuperação judicial" de algumas empresas comerciais
Para Marcus Magalhães, da MM Café Consultoria, as chuvas esperadas para a próxima semana nas regiões produtoras perderam forças e não devem ser significativas, ainda abaixo da média. Essa ansiedade climática se desdobra na ansiedade produtiva e, por tabela, mercadológica, porque a gente vem enfrentando dias muitos difíceis, de baixíssima liquidez em função da demanda, deixando os operadores que precisam comprar de "saia justa". O cenário deve “dar um norte por um bom período”, esperando que a tendência seja mantida. Olhando o macro, não há nada que valide uma mudança de tendência, citando como justificativa a falta de chuvas, de estoques estratégicos em regiões produtoras e o café disponível já se dirige aos compradores, e com certeza não fará sombra no mercado de forma suficiente para inverter a trajetória atual de firmeza das cotações.
O mercado de café no Brasil vive uma alta expressiva nos preços devido à seca adversa e o aumento da demanda global pela commodity, que são fundamentos que se consolidam nos últimos meses. "A tendência de aumento de preço deve persistir nos próximos meses, com expectativa de novas elevações à medida que os efeitos climáticos continuem a impactar as safras futuras e a demanda global se mantenha aquecida", gerente de inteligência de mercado da Scanntech, Caio Martine. Segundo dados da Scanntech, o café moído, que responde por quase 80% do faturamento da categoria, apresentou forte elevação nos preços a partir do segundo trimestre de 2024. Os preços no varejo brasileiro também já apresentam alta de 1,9%, segundo a empresa. Este cenário reflete o impacto direto da redução de oferta no Brasil.
Para Sven Anders, professor e economista agrícola da Universidade de Alberta, estamos vendo mudanças bastante drásticas no que de outra forma chamaríamos de padrões climáticos normais tradicionais, e isso tem efeitos drásticos no fornecimento esperado de café na próxima temporada de colheita. Uma forma de medir preços de commodities com base em contratos para entrega futura têm subido, indicando potenciais aumentos de preços à medida que a indústria prevê menor oferta no horizonte. O fato de que tanto o Brasil quanto o Vietnã estão lidando com grandes eventos climáticos ao mesmo tempo provavelmente tornará a pressão mais severa
O presidente da Adam Pesce, da Reunion Coffee Roasters, sediada em Oakville, Ontário, disse que esta é uma das primeiras vezes que vemos as mudanças climáticas realmente impactando os preços do café de forma significativa”, disse " É um cenário de tempestade perfeita quando você tem os dois maiores países produtores de café do mundo tendo o mesmo tipo de desafio no mesmo ano. Isso nunca aconteceu antes, e é por isso que você está vendo não apenas o aumento nos preços, mas o aumento sendo sustentado. Eu diria que há uma boa indicação de que isso vai ser sustentado por um período prolongado. Mas também, provavelmente não atingimos o pico.
Para analista Maytaal Angelda da Reuters, o Brasil está passando por uma de suas piores secas já registradas. Como consequência, incêndios atingiram terras agrícolas em algumas regiões produtoras de açúcar e etanol, enquanto o café arábica foi ainda mais afetado, pois a safra está na fase crítica de floração. A expectativa de que o Brasil entre em um dos mais longos períodos de entressafra das últimas décadas quebrou a estratégia de meses dos especuladores de operar vendido no mercado de açúcar de Nova York.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em agosto, o quilo do café, no varejo, chegou ao preço médio de R$ 39,63, o mais alto já registrado pela série histórica da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), iniciada em 1997. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2021, esse mesmo café custava R$ 15,37, segundo a Abic – o que significa um aumento de 157% em três anos e meio. Nos últimos 12 meses, o café moído subiu 16,6% para o consumidor, bem acima da inflação geral do Brasil no período (+4,2%). “Eu também não vejo possibilidade de queda de preço até pelo menos março ou abril de 2025. O que deverá acontecer, na verdade, é um aumento”, disse Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic.
Segundo dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), até dia 27 de setembro, os embarques brasileiros do mês totalizaram 3.623.161 sacas (média diária de 134.185 sacas), alta de 20,1%, sendo 2.641.558 sacas de café arábica, 706.032 sacas de café conillon e 284.571 sacas de café solúvel. Os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque de setembro totalizavam 4.229.685 sacas, alta de 25,4%, sendo 2.968.608 sacas de arábica, 893.122 sacas de conillon e 367.955 sacas de solúvel.
Com o aumento das exportações antes da entrada Lei antidesmate da UE em janeiro de 2025, as projeções dos embarques diários indicam que em setembro, as exportações deverá atingir 4,7 milhões de sacas e no acumulado dos três primeiros meses do ano safra 2024/2025, as remessas ao exterior alcançaram 12,2 milhões de sacas, se manter a média de 4,5 milhões de sacas nos próximo 90 dias serão mais de 13,5 milhões de sacas, acumulando 25,7 milhões de sacas nos primeiros 6 meses de 2024. De janeiro a setembro de 2024, o Brasil exportou o recorde de 36,5 milhões de sacas de café, o que representa 40% a mais ante aos 26 milhões de sacas embarcados no acumulado dos primeiros nove meses do ano passado.
Segundo informações de diretor de uma grande cooperativa do Sul de Minas, as exportações nesta últimos meses estão bem acima da média e tudo indica que o estoque de passagem para o próximo ano será o mínimo das últimas décadas. " Se as exportações continuar neste ritmo, em abril os estoques devem zerar", disse ele.
O consumo fora de casa (em restaurantes) nos EUA atingiu níveis pré-pandemia. O último relatório da North American Coffee Association mostra que, embora a casa continue a ser o local mais popular para o consumo de café nos EUA, 36% devido aos consumidores diários de café dizem que bebem café fora de casa – o nível mais elevado desde Janeiro de 2020.