Café e feijão têm potencial para convergir em favor da memória
Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) descobriu recentemente, em testes realizados com animais, que o ácido clorogênico é capaz de prevenir um dos principais sintomas do Alzheimer, os déficits de memória. Com os testes, os pesquisadores observaram uma melhora significativa no aprendizado e na memória. Presente também em chá, frutas cítricas e muitos outros alimentos, o ácido é um composto orgânico encontrado em diversas plantas e possui ação neuroprotetora, anti-oxidante e anti-inflamatória, conforme apontou os estudos.
Os pesquisadores resolveram testar se as funções do ácido, de alguma forma, poderiam prevenir os efeitos da doença de Alzheimer. Para isso, induziram sintomas da patologia em camundongos e testaram o tratamento com o composto. Os resultados mostraram que a substância protegeu os animais da morte de neurônios e diminuiu a neuroinflamação decorrente da doença. A simulação, conforme os pesquisadores, seguiu os princípios éticos do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal.
Os pesquisadores constaram ainda que o teste aumentou o fator de crescimento da chamada BDFN (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), uma proteína que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, no crescimento e na manutenção dos neurônios. O procedimento foi descrito em artigo publicado há poucos meses na revista internacional Molecular Neurobiology. O trabalho ganhou menção honrosa no 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia: NeuroImmunology 2024.
Conforme analisa a professora Geanne Matos de Andrade, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da FAMED, o ácido pode desempenhar funções importantes no combate de sintomas de diferentes doenças cerebrais. “Como substância ativa natural, o ácido clorogênico exerce diversos efeitos em resposta a uma variedade de desafios patológicos, particularmente condições associadas a doenças metabólicas crônicas e distúrbios relacionados com a idade”, explicou a professora.
Além disso, a pesquisadora afirma que o ácido clorogênico poderá, futuramente, ser usado como uma terapia adjuvante, um tratamento realizado junto à terapia-padrão principal ou inicial da patologia, que muitas vezes cumpre o papel de diminuir a dose ou efeitos colaterais.
“A terapia adjuvante também tem a proposta de agir em outras vias relacionadas com a doença. No caso da doença de Alzheimer, o tratamento com o ácido poderia diminuir a neuroinflamação. A ação se daria para reduzir o estresse oxidativo e para melhorar a sinalização da insulina, diminuindo o processo de morte neuronal que acompanha a doença”, acrescentou Andrade.
A pesquisadora informa ainda que, para que um tratamento para doença de Alzheimer com ácido clorogênico em forma de droga ou fitoterápico chegue a pacientes da doença, ainda são necessários alguns anos. Novos testes precisam ser executados com voluntários em três diferentes fases. No entanto, frizou a Geanne, esse tipo de pesquisa é cara e desperta pouco interesse da indústria farmacêutica